No Dia do Orgulho Gay, o Congresso Nacional é iluminado com as cores da bandeira LGBT+, no ano passado

Recentemente, recebi convite para ministrar aulas na pós-graduação do IEC-PUC Minas, dirigido pelas psicanalistas, coordenadoras e doutoras Inês Seabra Rocha e Ilka Ferrari. Relevantes questões sobre a sexualidade nos dias atuais e o desejo de um espaço para debates éticos e reflexões clínicas de aprimoramento profissional, à luz da psicanálise.Trata-se de um desafio ao qual eu não pude me furtar.

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O tema é fascinante e permite repensar preconceitos e moralismos geradores de exclusão e violência. A sociedade que construímos não lhes deu oportunidades dignas de pertencimento. Mantivemos pessoas cuja sexualidade não compreendemos à margem da sociedade e das relações de trabalho e, se examinamos esta exclusão com atenção, entendemos ser ela cruel e criminosa.

Uma cena chocante dos anos 1980, retratada na série “Pose” (disponível no Star+), no auge da mortalidade pela Aids da população não binária, homo, gay, transexuais e outros. Militantes pelo direito à vida e o respeito ao diferente invadiram a missa na Catedral de Nova York, deitaram no chão como mortos, protestando contra a posição da igreja, acusando de criminosa a defesa da proibição do uso da camisinha.

Fato é que opiniões particulares e posicionamentos contrários, por mais que sobrevivam diante desta realidade que vem se construindo fortemente, não impedirão o curso da história de se reescrever.
Para falarmos de sexualidade contemporânea, destaco que não se trata de sexo propriamente dito, mas de algo mais amplo que permeia as relações. Por isso não podemos deixar de citar Freud e Lacan.

Freud foi contemporâneo – no seu tempo, não deixou de enxergar o sorriso demente do seu século, como disse o atual filósofo italiano Giorgio Agamben. Contemporâneo é aquele que não coincide com seu tempo, numa certa desconexão, e pode olhar com distanciamento que lhe permite receber em pleno rosto um facho de trevas que provém da obscuridade. Os artistas, por exemplo, são sensíveis aos movimentos de seu tempo, e muitos conseguem expressar isto bem.

Sem escuta não há sintonia, e Freud, em 1907, afirmava que todos são bissexuais e as crianças, não anjinhos, mas perversos polimorfos, capazes de desfrutar prazeres e gozo indiscriminadamente.
A bandeira LGBTQIA+ tenta nomear cada forma de relação e, não fosse o + no final da sigla, iríamos até o fim do alfabeto, pois nunca poderemos nomear todo tipo de gozo. E nem deixar de compreender que a sexualidade permeia toda a vida humana. A militância defende o respeito pela multiplicidade de orientações LGBTQIA+, por inclusão social e políticas públicas de apoio, igualdade de direitos ao trabalho e a uma vida digna.

Voltando à pós, incluiremos as relações amorosas, as demandas de amor, o feminino, os corpos e as múltiplas formas de gozo que hoje requerem seu lugar legitimado na sociedade. A sexualidade nos neuróticos atravessados pela fantasia faz enigma para o sujeito capturado pelos pares masoquismo e sadismo, amor e ódio; pulsões parciais em busca de objetos que jamais farão um.

Haverá, também, uma disciplina específica para casos clínicos e seminários sobre temas extraídos no campo da psicanálise em extensão e intenção, a exemplo do suicídio, da toxicomania, das novas configurações familiares, da vida sexuada atravessada pelo discurso da ciência.

QOSHE - Uma reflexão sobre a sexualidade contemporânea - Regina Teixeira Da Costa
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Uma reflexão sobre a sexualidade contemporânea

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28.01.2024

No Dia do Orgulho Gay, o Congresso Nacional é iluminado com as cores da bandeira LGBT , no ano passado

Recentemente, recebi convite para ministrar aulas na pós-graduação do IEC-PUC Minas, dirigido pelas psicanalistas, coordenadoras e doutoras Inês Seabra Rocha e Ilka Ferrari. Relevantes questões sobre a sexualidade nos dias atuais e o desejo de um espaço para debates éticos e reflexões clínicas de aprimoramento profissional, à luz da psicanálise.Trata-se de um desafio ao qual eu não pude me furtar.

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