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Bets e Bolsa Família. Quando o dinheiro para sobreviver vira aposta

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18.12.2025

Por Alexia Diniz

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Quando o Bolsa Família caiu na conta, Seu Mauro respirou fundo achando que, pelo menos naquele mês, ia conseguir pagar tudo certinho. Só que antes mesmo de levantar da cama o celular vibrou com o alerta do aplicativo de apostas dizendo que tinha “bônus exclusivo esperando”.

Ele pensou que dez reais não fariam falta e que talvez fosse a chance de transformar pouco em muito. Apostou uma vez, perdeu. Apostou de novo tentando recuperar. Quando percebeu, já tinha gastado uma parte boa do benefício sem ganhar nada e o dinheiro que era para o mercado virou saldo negativo e arrependimento.

Enquanto olhava o extrato, ele entendeu o que milhões de famílias estão descobrindo tarde demais. A bet promete mudar o mês, mas o que muda mesmo é o tamanho do buraco no orçamento.

As bets deixaram de ser apenas um passatempo e viraram um problema nacional entre os brasileiros que vivem com menos. O fenômeno ganhou força porque apostar no celular parece uma forma rápida de conseguir um dinheiro que nunca chega. A promessa de transformar 10 em 100 cria uma sensação de esperança que mexe com quem já está no limite da sobrevivência.

O Tribunal de Contas da União revelou que milhões de pessoas que recebem o Bolsa Família estão colocando parte do benefício nas bets. O número é tão grande que deixa claro que não estamos falando de casos isolados ou exageros de internet. Existe um padrão assustador que mostra como a aposta virou uma saída ilusória que só aprofunda o buraco financeiro dessas famílias.

E o cenário é ainda mais grave porque ao mesmo tempo em que as pessoas apostam com pouco dinheiro, criminosos estão usando CPFs de beneficiários para operações ilegais dentro dessas plataformas, como lavagem de dinheiro, aluguel de CPF e cash-out tendo a conta sendo utilizada como laranja. O resultado é uma mistura explosiva de vulnerabilidade, vício e fraude.

Em janeiro deste ano, as famílias do Bolsa Família transferiram 3,7 bilhões de reais para sites de apostas. Só para entender o tamanho do problema, isso representa 27% de tudo que o governo pagou no mês. Em outras palavras, a cada R$4,00 de benefício distribuído, mais de um acabou nas bets.

O levantamento mostrou que 4,4 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família tiveram algum membro apostando naquele mês. Isso significa que mais de um quinto dos lares beneficiados teve contato direto com apostas online. Não é exagero dizer que o celular virou um mini cassino que está sempre aberto, sempre chamando e sempre vencendo.

Esses números revelam uma escolha dura para famílias que já vivem contando moedas. Quando o dinheiro do benefício, que deveria garantir comida e produtos básicos, começa a virar aposta, o impacto se espalha como um efeito dominó. Falta comida, falta gás, falta paz.

A sensação de ganhar rápido é uma armadilha........

© Estado de Minas