Na semana passada, conheci uma expressão curiosa: "enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé". Em outras palavras, enquanto houver um inocente, sempre haverá um espertalhão disposto a levar vantagem sobre ele. Mas para isso, é preciso primeiro convencê-lo.
A tecnologia vem facilitando a vida do mentiroso!
Quanto maior a "malandragem", maior a mentira necessária para ser bem-sucedida. Uma parte da cultura brasileira até idolatra isso. Bezerra da Silva (foto) a detalhou no seu samba "Malandro É Malandro e Mane É Mane". Segundo a letra, "malandro é um cara maneiro", "que sabe das coisas" e "que está com dinheiro". Já o Mané, "não ganha ninguém", "está sempre duro" e "puxa o saco pra sobreviver".
Morto em 2005 aos 77 anos, com 28 discos que venderam juntos mais de 3 milhões de cópias, o ex-morador de rua e ex-pintor de parede vem sofrendo um progressivo "cancelamento" nas redes sociais por abordar temas "incômodos" como esse. Mas -suprema ironia- as redes sociais estão cheias de "malandros" procurando "manés".
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Quase sempre, querem vender alguma coisa, como cursos para ficar rico, pílulas milagrosas de emagrecimento ou a fórmula da juventude. Criam personagens que tornam seus discursos mais críveis. Às vezes, vestem um jaleco e se dizem doutores.
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O mais incrível é que vários deles vendem muito, seja lá qual for a maracutaia! As redes sociais e seus algoritmos de relevância, que reforçam nossas crenças e desejos (para o bem e para o mal), são perfeitos para legitimar essas mentiras, pois as pessoas acreditam no que quiserem. Precisam apenas que alguém "lhes mostre o caminho".
Agora eles ganharam uma nova aliada: a inteligência artificial. As plataformas de "deep fake" usam a IA para sintetizar, com assombrosa semelhança, a voz e o estilo de qualquer pessoa. Além disso, podem criar imagens e vídeos convincentes de uma pessoa famosa ou anônima fazendo de tudo.
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Com isso, muitos "malandros digitais" colocam "fakes" de celebridades para comercializar todo tipo de quinquilharia, desde tabletes de cura do câncer até ideias políticas questionáveis. É como ter William Bonner vendendo cursos de oratória ou Drauzio Varella promovendo remédio contra a calvície.
Como resistir a alguém de grande reputação anunciando, diante de nossos olhos, algo que desejamos? É uma pena que seja falso, mas as pessoas percebem isso cada vez menos, graças à tecnologia.
O "malandro-raiz" cantado por Bezerra da Silva não tinha nada disso e os "manés" que conseguia normalmente se limitavam à mesa de um boteco. Sua prática não era, de forma alguma, aceitável, mas me preocupo muito mais os "malandros digitais" que enfrentamos hoje e impactam milhões de pessoas com o seu "canto de sereia". Os prejuízos que eles causam são monstruosos, enganando muito mais gente. Basta olhar à volta para encontrar alguém sendo tapeado.
Essa tecnologia não foi criada para o mal, porém seria ingenuidade acreditar que ela não seria usada para isso também. A sociedade precisa encontrar uma forma de responsabilizar quem a usa para delitos, assim como quem a cria e a libera sem os devidos cuidados. Essa conta não pode ser paga apenas pelos usuários.
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Nunca foi tão fácil mentir!
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14.12.2023
Na semana passada, conheci uma expressão curiosa: "enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé". Em outras palavras, enquanto houver um inocente, sempre haverá um espertalhão disposto a levar vantagem sobre ele. Mas para isso, é preciso primeiro convencê-lo.
A tecnologia vem facilitando a vida do mentiroso!
Quanto maior a "malandragem", maior a mentira necessária para ser bem-sucedida. Uma parte da cultura brasileira até idolatra isso. Bezerra da Silva (foto) a detalhou no seu samba "Malandro É Malandro e Mane É Mane". Segundo a letra, "malandro é um cara maneiro", "que sabe das coisas" e "que está com dinheiro". Já o Mané, "não ganha ninguém", "está sempre duro" e "puxa o saco pra sobreviver".
Morto em 2005 aos 77 anos, com 28 discos que venderam juntos mais de 3 milhões de cópias, o ex-morador de rua e ex-pintor de parede vem sofrendo um progressivo "cancelamento" nas redes sociais por abordar temas "incômodos" como esse. Mas -suprema ironia- as redes sociais estão........
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