1. Celebra-se no próximo domingo mais um Dia Mundial do Doente.

Uma oportunidade – mais uma – para pensar na realidade que é a existência de pessoas doentes e das consequências que isso tem.

De entrada permito-me lembrar uma verdade comezinha mas muitas vezes esquecida: o Doente é uma pessoa e não uma fonte de receita. Uma pessoa que deve ser servida e não uma oportunidade de lucro. Uma pessoa que, mercê da situação em que se encontra, tem direito a cuidados especiais e estes não se resumem a apresentar-lhe, a tempo e horas, a comidinha e os medicamentos. O Doente precisa de mais, e a mensagem do Papa Francisco lembra isso. É necessário ter tempo para o Doente.

Lamentavelmente há circunstâncias em que, em lugar de ser servido, o Doente é explorado. A pretexto – falso pretexto – de ser servido.


2. Sujeito de direitos, o Doente também tem deveres. Um deles é o de saber ser Doente.

A doença não justifica a resmunguice, a rabugice, a teimosia. Muito menos a falta de educação.

É vulgar designar-se o Doente de Paciente, mas às vezes de paciente tem muito pouco. Pretende que tudo seja feito quando quer e como quer, o que nem sempre é possível.

O Doente tem o dever de seguir as orientações de quem dele cuida. De saber dizer obrigado. De saber pedir por favor. De reconhecer as limitações de quem o serve.

Estou persuadido de que ser um bom Doente também é uma graça e uma bênção de Deus. Todos os dias Lho peço, consciente de que a Sua ajuda não dispensa a minha ajuda, e esta….


3. Na mensagem de que falei o Papa alerta para o sentimento de solidão e de abandono que, por vezes, invade doentes e idosos. Partindo do texto bíblico «Não é conveniente que o homem esteja só» (Gn 2, 18) afirma que «o primeiro cuidado de que necessitamos na doença é uma proximidade cheia de compaixão e ternura».

«Por isso, acrescenta, cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das suas relações, de todas as suas relações: com Deus, com os outros – familiares, amigos, profissionais de saúde –, com a criação, consigo mesmo».

«Viemos ao mundo porque alguém nos acolheu, somos feitos para o amor, somos chamados à comunhão e à fraternidade.

Esta dimensão do nosso ser sustém-nos sobretudo no tempo da doença e da fragilidade, e é a primeira terapia que todos, juntos, devemos adotar para curar as doenças da sociedade em que vivemos».


4. Porque o sentimento de solidão e de abandono também pode acontecer em casas cheias de gente o Papa encoraja escrevendo: «A vós que vos encontrais na doença, passageira ou crónica, quero dizer-vos: Não tenhais vergonha do vosso desejo de proximidade e ternura. Não o escondais e nunca penseis que sois um peso para os outros».


5. Em "O Vídeo do Papa" com a intenção para este mês, Francisco defende a importância do acompanhamento a doentes terminais, com investimento em cuidados paliativos.

“Rezemos, diz, para que os doentes terminais e as suas famílias recebam sempre os cuidados e o acompanhamento necessários, tanto do ponto de vista médico como humano”.

“É aqui, lembra, que entram os cuidados paliativos, os quais garantem ao paciente não só a atenção médica, mas também um acompanhamento humano e próximo”.

Ser Doente incurável não é o mesmo que ser Doente incuidável. Cuidar do Doente é amá-lo e não arrumá-lo.

Mesmo quando há “poucas possibilidades de cura”, todos os doentes têm “direito ao acompanhamento médico, ao acompanhamento psicológico, ao acompanhamento espiritual, ao acompanhamento humano”, diz o Papa.

E diz também: “Às vezes não podem falar, às vezes pensamos que não nos conhecem, mas se lhes pegarmos na mão compreendemos que estão em sintonia. Nem sempre se alcança a cura. Porém podemos sempre cuidar do Doente, acariciar o Doente”.

QOSHE - Tempo para o doente - Silva Araújo
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Tempo para o doente

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08.02.2024

1. Celebra-se no próximo domingo mais um Dia Mundial do Doente.

Uma oportunidade – mais uma – para pensar na realidade que é a existência de pessoas doentes e das consequências que isso tem.

De entrada permito-me lembrar uma verdade comezinha mas muitas vezes esquecida: o Doente é uma pessoa e não uma fonte de receita. Uma pessoa que deve ser servida e não uma oportunidade de lucro. Uma pessoa que, mercê da situação em que se encontra, tem direito a cuidados especiais e estes não se resumem a apresentar-lhe, a tempo e horas, a comidinha e os medicamentos. O Doente precisa de mais, e a mensagem do Papa Francisco lembra isso. É necessário ter tempo para o Doente.

Lamentavelmente há circunstâncias em que, em lugar de ser servido, o Doente é explorado. A pretexto – falso pretexto – de ser servido.


2. Sujeito de direitos, o Doente também tem deveres. Um deles é o de saber ser Doente.

A doença não justifica a resmunguice, a........

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