1. Caminhar juntos é hoje, e muito bem, a palavra de ordem. Somos o Povo de Deus. O individualismo encontra-se no polo oposto do núcleo da mensagem cristã. Um cristão só não é um cristão, como há séculos afirmou o cartaginês Tertuliano (160-240). Os outros também existem. Com o seu feitio. Com o seu temperamento. Com as suas manias. Com as suas qualidades e defeitos. Com as suas capacidades e limitações. Não caminhamos juntos se deixarmos alguém para trás.


2. Para caminharmos juntos precisamos de comunicar uns com os outros e de comunicar bem. Sublinho o vocábulo bem porque é de importância fundamental. Nisto não tenho dúvidas.

No processo de comunicação é imperioso que a mensagem do emissor seja recebida e entendida pelo recetor. Sem isso não há verdadeira comunicação.

Não basta, para sossego do emissor, a certeza de que disse. E o recetor ouviu e entendeu?

É necessário escolher a forma de comunicar. Não se enviam mensagens orais a surdos, mensagens escritas a analfabetos, mensagens visuais a cegos.


3. Nisto tenho receio de, às vezes, estarmos a falhar. As modernas tecnologias são um bem. Dão para fazer coisas muito bonitas. É bom que as utilizemos e estejamos atualizados. Mas se o destinatário da mensagem as não conhece ou as não sabe utilizar…

Há hoje a tendência para fugir do papel. Comunica-se online. Colocam-se os textos na internet. E se as pessoas a quem a mensagem se dirige não possuem internet ou não a sabem usar?


4. Comunicar não é apenas falar, redigir circulares, transmitir ordens e decisões que se tomaram. Também é ouvir. Melhor: escutar e escutar com o coração, como no passado dia 21 de dezembro o Papa Francisco recomendava aos membros da Cúria Romana: «Escutar com o coração é muito mais do que ouvir uma mensagem ou trocar informações; trata-se duma escuta interior capaz de intercetar os desejos e as carências do outro, duma relação que nos convida a superar os esquemas e vencer os preconceitos com que às vezes classificamos a vida daqueles que nos rodeiam».

Comunicar também é ir ao encontro dos outros, quantas vezes desejosos de partilharem anseios e preocupações. Também é ter tempo e disposição para tomar consciência de legítimas reivindicações.


5. Para caminharmos juntos precisamos de saber comunicar com todos os elementos do grupo e não apenas com alguns. Temos de saber resistir à tentação de nos mostrarmos muito modernos e muito atualizados e de vivermos a consciência de que, no tal processo de comunicação, o emissor é servo do recetor. Entre os destinatários da mensagem há pessoas com diversas capacidades e aptidões. E há diversos meios de comunicar e não apenas um. Se vivermos a ideia de que comunicar é dar ou mandar recados, afixar avisos ou enviar papelinhos pode acontecer de não atingirmos os objetivos.


6. Bom comunicador pode não ser quem bem fala ou bem escreve. Se envia mensagens atrás de mensagens mas o destinatário as não recebe ou as não sabe descodificar é tempo perdido.

E não se andará, em alguns casos, a perder tempo? Não haverá comunicadores culpados de haver elementos do grupo que ficam para trás? Não haverá emissores necessitados de ensinarem os recetores a captar as mensagens?

Fui assistente diocesano da Liga Operária Católica (LOC). Um dos meus trabalhos, em alguns casos, consistia em ajudar militantes de base a entenderem mensagens vindas de cima.

Sei que isto aconteceu em finais da década de sessenta do século passado, mas…

Marcar golos não é pontapear a bola de qualquer maneira. O Ronaldo que o diga.

QOSHE - Caminhar juntos - Silva Araújo
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Caminhar juntos

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04.01.2024

1. Caminhar juntos é hoje, e muito bem, a palavra de ordem. Somos o Povo de Deus. O individualismo encontra-se no polo oposto do núcleo da mensagem cristã. Um cristão só não é um cristão, como há séculos afirmou o cartaginês Tertuliano (160-240). Os outros também existem. Com o seu feitio. Com o seu temperamento. Com as suas manias. Com as suas qualidades e defeitos. Com as suas capacidades e limitações. Não caminhamos juntos se deixarmos alguém para trás.


2. Para caminharmos juntos precisamos de comunicar uns com os outros e de comunicar bem. Sublinho o vocábulo bem porque é de importância fundamental. Nisto não tenho dúvidas.

No processo de comunicação é imperioso que a mensagem do emissor seja recebida e entendida pelo recetor. Sem isso não há verdadeira comunicação.

Não basta, para sossego do emissor, a certeza de que disse. E o recetor ouviu e........

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