Segundo reza a história, no antigo Império Romano existiu um triunvirato cujo poder recaía sobre três generais, a saber: Caio Júlio; Pompeu e Crasso. Este último fora incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos, tendo à sua disposição todas técnicas romanas de guerra e um portentoso exército. Tão convencido estava do seu êxito que, quando decidiu investir, resolveu prescindir não só da maior parte das formações, como de alguns métodos.

Ignorando as mais elementares regras de combate, Crasso, decidiu escolher um caminho estreito e com pouca visibilidade, pensando ser essa uma boa estratégia. O que veio a resultar num estrondoso fracasso. Dado que os Partos, ainda que em menor número, encurralaram os romanos fazendo-os tombar, inclusive o experiente general, vencendo a batalha. Desde então, sempre que alguém tem tudo para o êxito mas comete um estulto deslise diz-se tratar de um “erro crasso”.

Ora, não sou adivinho para saber se a decisão do líder do Governo da Aliança Democrática (AD), Luís Montenegro (LM), em teimar governar em minoria, se irá assemelhar à daquele comandante romano. Isso só o futuro o dirá. Embora ao lado da sua bancada tivesse (e continua a ter) deputados suficientes, que o faria obter uma confortável maioria parlamentar. Só que ao preferir não o fazer está a arcar com a presente situação do “tem-te senão cais”.

É que, LM, não só rejeitou entendimentos à direita, como decidiu ir pela via das “linhas vermelhas ao partido Chega (CH). E mais, ao liquidar tal possibilidade com o “não é não”, não só o deixou Ventura à rédea-solta para aprovar ou chumbar o que quiser, como fê-lo extremar-se mais ainda. Mesmo ciente de que pouco vale a velha máxima: “por um voto se ganha e por um voto se perde”, LM, sem acordo parlamentar – embora vencedor – já era. E aqui é que bate o ponto, dado que caso hoje quisesse voltar atrás, seria logo crucificado.

Assim, aquilo que poderia ter sido um acordo parlamentar na Assembleia da República (AR), à direita, esfumou-se. Daí, o executivo da AD ter ficado entalado entre dois dilemas: se votar com os apelidados populistas do CH, logo é acusado pela esquerda de estar aliado à direita radical. Ou, se esta votar ao lado do Partido Socialista (PS), de imediato a AD dirá tratar-se de uma oposição negativa.

Decisão certa, ou errada? O tempo o dirá. Contudo, LM, só poderá queixar-se de si próprio, caso tenha laborado num “erro” idêntico ao de Crasso por ter recusado acordos. Afastando não só a hipótese de ter sucesso nas propostas constantes do seu programa de governação, como a de tirar o país da estagnação. Ou seja, com medo de ser acusado de direita, não teve o arrojo e a lata de António Costa que, durante 4 anos, se juntou à extrema-esquerda.

Sem apoio parlamentar, LM, é o rosto da fragilidade à frente do seu Governo. É um líder toldado pelo receio da reação dos seus opositores. Vai fazendo uma espécie de abertura em leque, qual pavão, para tentar cair nas boas graças dos opositores, mas, mesmo assim, não consegue. Tem o PS e P. Nuno Santos à perna, confiante em eleições antecipadas.

Para além do mais, as críticas que oiço e leio na Comunicação Social raramente lhe são meigas. Até o Presidente Marcelo, oriundo do PSD, anda mais interessado em promover o oriental e lento, A. Costa, a um alto cargo europeu, do que cooperar institucionalmente com o rural urbano, L. Montenegro. Mas o que achei curioso, foi não ter visto um só social-democrata a indicar Passos Coelho para tal desígnio. O que só veio confirmar que, na AD, não se topam.

Ademais, não noto grande ânimo na ala política de LM, a não ser as acostumadas ambiguidades e “farpas” de alguns comentaristas afetos ao seu partido, tais como Pacheco Pereira, J.M. Júdice, Marques Mendes e P. Marques Lopes. O que me leva a vaticinar não só a inviabilidade de se aguentar os quatro anos e meio no poder, como vir a perder a batalha das prometidas reformas de que Portugal tanto carece.

QOSHE - Decisão certa, ou errada? - Narciso Mendes
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Decisão certa, ou errada?

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20.05.2024

Segundo reza a história, no antigo Império Romano existiu um triunvirato cujo poder recaía sobre três generais, a saber: Caio Júlio; Pompeu e Crasso. Este último fora incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos, tendo à sua disposição todas técnicas romanas de guerra e um portentoso exército. Tão convencido estava do seu êxito que, quando decidiu investir, resolveu prescindir não só da maior parte das formações, como de alguns métodos.

Ignorando as mais elementares regras de combate, Crasso, decidiu escolher um caminho estreito e com pouca visibilidade, pensando ser essa uma boa estratégia. O que veio a resultar num estrondoso fracasso. Dado que os Partos, ainda que em menor número, encurralaram os romanos fazendo-os tombar, inclusive o experiente general, vencendo a batalha. Desde então, sempre que alguém tem tudo para o êxito mas comete um estulto deslise diz-se tratar de um “erro crasso”.

Ora, não sou adivinho para saber se a decisão do........

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