Recorrendo ao velho ditado que nos diz ser o maior cego aquele que não quer ver, direi que há dois partidos e os seus respetivos líderes que não só não querem enxergar a realidade, como teimam em ignorar o óbvio. Senão, vejamos: se o universo dos eleitores portugueses é, sensivelmente, o mesmo por que razão o Partido Social Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social (CDS) aparecem nas sondagens com resultados aflitivos? Não será porque alguns dos militantes e apoiantes (em falta) mudaram de camisola?

Ora, dado estes dois partidos andarem sempre a esgravatar ao centro e a Iniciativa Liberal feita barata tonta, quem é que sobra à direita? Claro, o Chega e André Ventura (AV). Lugar, outrora ocupado pelo CDS a quem, em tempos que já lá vão, intitulavam de “salazarista”. Mas que apesar da qualidade dos seus quadros políticos, não descola dos 1 a 2% nas intenções de voto. Enquanto o Chega cresce.

Assim sendo, não sei o que levou Luís Montenegro (LM) a entender-se com o CDS e o P. P. Monárquico, que nem assento parlamentar têm. Talvez seja para juntos enfrentarem a poderosa máquina de estratégia socialista, afinada para a campanha das eleições legislativas do próximo 10 de março. Contudo, quem sairá beneficiado disso são os centristas, uma vez que os sociais-democratas terão de lhes ceder alguns lugares de deputados no Parlamento.

Réplica de uma outra memorável “Aliança Democrática”, mas que, em nome da moderação, acabará por servir de arma de arremesso tanto ao Partido Socialista (PS) e a Pedro Nuno Santos (PNS), como a toda a esquerda, para a fustigarem. Trazendo à liça os tempos da “troika” e do “Portugal à Frente” na austeridade e nos cortes das pensões. Já o facto de LM ter aceitado incluir figuras socialistas, ditas independentes, nas suas hostes não só estou para ver no que isso irá resultar, como deixará os seus eleitores baralhados sobre se hão-de votar na imitação, em que se transformou o PSD, ou no original, o PS.

Não há dúvida que PSD não aprende. Devia olhar para o PS e colher o exemplo do derrotado interno, José Luís Caneiro, que veio a terreiro apelar à união do partido – na campanha – em torno de PNS. Mas será que já vimos atitude idêntica de Rui Rio, que perdeu para o seu rival interno, a vir pedir união de todo o partido à volta de LM?

Com efeito, vejo pouca saída para o PSD, caso teime em rejeitar negociar à sua direita, uma vez que o PS não terá nenhum pejo em formar uma “frente-esquerda” com as chamadas forças radicais da mesma. É que já estou a imaginar o predestinado PNS em campanha, com António Costa (AC), seu grão-mestre, a acenar com a 2ª “geringonça”.

É que se oportunidade houve para o PSD fazer oposição, a sério, foi durante os oito anos de barafunda governativa socialista, chefiada por AC, tido por alguém como “indecente e má figura”. Porém, limitou-se, impávido, a assistir a tudo. Mormente, às movimentações de familiares, parentes, amigos e “boys” do PS para lugares-chave do Estado.

Assim sendo, das duas uma: ou o dono da casa “ensombrada”, de Espinho, se deixa de ambíguos discursos, quanto ao seu pendor ideológico, ou bem poderá esperar sentado que as “ovelhas tresmalhadas” voltem aos seus redis. Pois só com o contributo delas poderá chegar a Primeiro-ministro.

Além do mais, precisa virar a página do complexo que o atormenta. Sobretudo o de poder vir a ser colado à chamada extrema-direita, mas que, em minha opinião, tem tanto direito a existir como o PCP, BE, PAN e o livre. Todos eles eleitos e com assento na Assembleia da República.

Na certeza, porém, de que não há democracia sem partidos políticos. Desde que legalizados pelo Tribunal Constitucional e sufragados nas urnas pelos votos do soberano povo português. Pelo que, a partir daí, quem não gostar de determinada cor político-partidária, tem à sua disposição quatro opções livres e democráticas: votar noutra; votar em branco; anular o voto, ou abster-se. E nisto estou com o nosso Presidente da República.

QOSHE - AS “OVELHAS TRESMALHADAS” - Narciso Mendes
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

AS “OVELHAS TRESMALHADAS”

8 0
08.01.2024

Recorrendo ao velho ditado que nos diz ser o maior cego aquele que não quer ver, direi que há dois partidos e os seus respetivos líderes que não só não querem enxergar a realidade, como teimam em ignorar o óbvio. Senão, vejamos: se o universo dos eleitores portugueses é, sensivelmente, o mesmo por que razão o Partido Social Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social (CDS) aparecem nas sondagens com resultados aflitivos? Não será porque alguns dos militantes e apoiantes (em falta) mudaram de camisola?

Ora, dado estes dois partidos andarem sempre a esgravatar ao centro e a Iniciativa Liberal feita barata tonta, quem é que sobra à direita? Claro, o Chega e André Ventura (AV). Lugar, outrora ocupado pelo CDS a quem, em tempos que já lá vão, intitulavam de “salazarista”. Mas que apesar da qualidade dos seus quadros políticos, não descola dos 1 a 2% nas intenções de voto. Enquanto o Chega cresce.

Assim sendo, não sei o que levou Luís Montenegro (LM) a entender-se com o CDS e o P. P.........

© Diário do Minho


Get it on Google Play