Alguns dias após a celebração do dia de Reis tenho por hábito “desmontar” o Presépio que preparei para o Natal e, desta vez, não foi diferente. A não ser quando ao embrulhar as figurinhas para o evento do próximo ano me veio à memória uma notícia do jornal CM, saída durante a quadra natalícia, que me deixou algo pensativo. A qual, devo dizer, não só não foi desmentida, como mexeu com algo que muito prezo.

Pois bem, numa época festiva propícia às prendas e a outras extravagâncias, não gostei da que li. Tratava-se de um Presépio exibido na Comuna de Avelino de Capocatello, em Itália, tal como se armam em muitos outros lugares, só que com a seguinte particularidade: o padre Della Sala, da Igreja de S. Pedro e S. Paulo, resolveu (des)inovar, colocando na cabaninha, junto a Jesus, em vez de Nossa Senhora e S. José, duas figuras femininas.

Segundo era relatado, trata-se de um clérigo simpatizante da causa LGTB que, ao ser interpelado, apenas disse estar em linha com a seguida pelo Papa Francisco. E aqui é que me comecei a interrogar sobre se teriam saído novas diretivas do Vaticano nesse sentido. Pois se assim for, não só temos o direito, enquanto católicos, a saber se é ele que está certo, como se o Presépio andará a ser repensado noutros moldes.

Pois se estiver, coloca-se a seguinte questão: até onde, eventualmente, poderá ir tal transformação da constituição da Sagrada Família de Nazaré? O que iremos, porventura, ver nas futuras gravuras livreiras e artísticas a substituir o menino Jesus, a Virgem Maria e seu esposo S. José? É que se assim for, não tardará que sejam questionadas outras figuras bíblicas, vá-se lá saber quais.

Presépio desmontado, dei comigo embasbacado a olhar para a minha estante livreira. Sobretudo para os dois volumes da Bíblia, Antigo e Novo Testamento (com 230 ilustrações, da Lello & Irmão) e para a Bíblia dos Capuchinhos (da Difusora Bíblica), uma oferta de uma pessoa amiga, datada de 1958, bem como para uma catrefada de livros relativas à família cristã (ofertados por um amigo franciscano). E, que me lembre, em nenhum deles vi e li alusões a um Presépio semelhante ao de Della Sala.

Eu sei que lá virá a “lengalenga” habitual do: “temos de nos acostumar, é a evolução dos tempos”. Só que, antes disso, gostaria de saber se vamos continuar complacentes perante semelhante radicalismo e dispostos a aceitar o aniquilamento da família representada no Presépio tradicional? É que se assim for – indiferentes aos ditames da pancada identitária dos teóricos do “género” – um dia destes nem as obras literárias dos grandes autores do pensamento judaico-cristão escaparão.

Ademais, sendo a Natividade do Salvador celebrada uma vez por ano, o que ficará na mente de quem vai visitar algum Presépio do calibre do exibido em Capocatello? Naturalmente, a dúvida de quais serão, na verdade, os autênticos progenitores de Jesus Cristo.

E se a moda pega, para além deste eclipsar do S. José na cabaninha, outras figuras seguir-se-ão na nomenclatura presepista. O primeiro passo está dado com duas personagens do mesmo sexo. E a ser assim, nem o Deus Menino e os três Reis Magos escaparão à fúria “wokista” de pretenderem remeter os cristãos às ancestrais catacumbas.

A mentalidade mundana, em minha opinião, anda perturbada com as novas teorias que nada de novo acrescentam, a não ser a decadência do ser humano. E não é com esta postura de indiferença, perante tudo que aparece rotulado de “cultura wok”, que a evangelização se revelará frutuosa. É que nunca o ateísmo e o agnosticismo andaram tão de mãos dadas com algum do novo ativismo, nem sempre fiável, como agora.

As pessoas são livres de se manifestarem, democraticamente, pelas causas em que acreditam. Até já é legítimo mudarem de sexo, género, identidade, nacionalidade, etc., que sempre abonarei com todo o meu respeito. Agora, virem mexer com as figuras de Maria e José, na cabaninha do Presépio, é algo que não lembraria ao diabo.

QOSHE - Ao “desmontar” do Presépio - Narciso Mendes
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Ao “desmontar” do Presépio

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15.01.2024

Alguns dias após a celebração do dia de Reis tenho por hábito “desmontar” o Presépio que preparei para o Natal e, desta vez, não foi diferente. A não ser quando ao embrulhar as figurinhas para o evento do próximo ano me veio à memória uma notícia do jornal CM, saída durante a quadra natalícia, que me deixou algo pensativo. A qual, devo dizer, não só não foi desmentida, como mexeu com algo que muito prezo.

Pois bem, numa época festiva propícia às prendas e a outras extravagâncias, não gostei da que li. Tratava-se de um Presépio exibido na Comuna de Avelino de Capocatello, em Itália, tal como se armam em muitos outros lugares, só que com a seguinte particularidade: o padre Della Sala, da Igreja de S. Pedro e S. Paulo, resolveu (des)inovar, colocando na cabaninha, junto a Jesus, em vez de Nossa Senhora e S. José, duas figuras femininas.

Segundo era relatado, trata-se de um clérigo simpatizante da causa LGTB que, ao ser interpelado, apenas disse estar em linha com a seguida pelo........

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