Ao passar na rua de S. Martinho, não o faço indiferente a um “outdoor” estacionado junto ao viaduto e à Estação de Serviço local. Nele, pode ler-se o seguinte: “Está parado? Braga também”. Expressão, livre e democrática, sobre a qual não direi aquilo que Maomé disse do toucinho, sob pena de vir a ser censurado pelos novos inquisidores do reino. Aliás, como alguém já foi ao referir-se aos turcos. Mas não resisto dizer que se a atual gestão municipal não é a mais produtiva, põe-se a jeito. Já que a cidade e os seus cidadãos cumprem as tarefas diárias, trabalham e pagam a tempo e horas os seus impostos, apesar do stress e da enorme perda de tempo nas filas de trânsito.

Contudo, associar a lentidão a que circulam os automobilistas à inércia dos poderes camarários, cheira-me a oportunismo da oposição. Mas não deixa de ser numa “farpa” política a quem quase nada tem feito para solucionar o caos rodoviário que, em certas horas do dia, se vive em Braga; a este deixa andar que atrás virá gente, penalizando não só a geração presente, como as seguintes.

Depois, porque para uma urbe que se pretende boa para viver, disciplinada, inovadora e cosmopolita as vias remendadas, a meu ver, pouco ajudam. É, sobretudo, algo incompatível com a imagem de uma bimilenária cidade que ostenta a fama de Roma portuguesa. Já que circular de carro na cidade, por entre a diversidade de mobilidade disponível, constitui-se um verdadeiro quebra-cabeças. Por vezes, até me interrogo sobre como é que os transportes públicos conseguem cumprir horários.

Mas não só. Alguns pisos por onde rodam as viaturas não demonstram o mínimo de manutenção. Debalde a atividade cíclica de um “tapa aqui”, “tapa ali” quase tão interminável como dispendiosa, dado que sob o efeito da chuva logo tudo volta a abrir-se. Cito, por exemplo, a referida rua do “Outdoor”, desde as Andorinhas até ao Estádio da Pedreira e vice-versa, a maior parte dela com laivos de cangosta. Onde o incauto automobilista que nela transita, acaba por ver as suas poupanças voarem para as oficinas-auto.

É que se esse troço de estrada fosse para um outro sítio qualquer, vá que não vá. Só que por ele passam milhares de adeptos nacionais e internacionais, sempre que se realizam jogos de futebol. Com a agravante de ter passeios exíguos, sem travessias para peões e cujo seu alargamento é, ainda, uma miragem. Embora, de Montélios para baixo, os terrenos estejam desimpedidos de casario.

Se tal tarefa não for do foro da Câmara Municipal, de algum organismo estatal há de ser. Pelo que dado este Governo ser da mesma cor política da camarária seria, a meu ver, uma boa altura para revindicar não só a reparação dessa via como de outras. Inclusive a abertura de uma circular externa, que retire tráfego à atual e congestionada via rápida. Já que como referiu um célebre ensaísta francês: “nada demora tanto como aquilo que não se começa”. Pelo menos, enquanto há fundos europeus.

É, pois, legítimo que os bracarenses cogitem, entre si, sobre como é que há verbas para tanta prodigalidade e não há para a repavimentação das ruas esburacadas? Não seria mais salutar moderar tais gastos para o que mais importa à vida da urbe e dos cidadãos? Tal como vem acontecendo com requalificação dos túneis de acesso à Avenida da Liberdade, e bem, em que estão a ser gastos alguns milhões de euros, inclusive, do PRR?

Enfim, Braga parada não está. Mas receio bem que possa levar alguns anos a arrancar no sentido da conservação das vias existentes e da criação de outras. É que muito está por fazer e amanhã – dado o aumento de tráfego – o dobro haverá para ser feito. De outro modo, temo bem que circular por Braga continue o crónico “passo de caracol”. Pelo menos, enquanto não surgir alguém arrojado(a) e dinâmico(a) às rédeas da Autarquia que satisfaça as aspirações desta bimilenária Augusta cidade e dos Arcebispos. Perfil que, infelizmente, nem nos autores daquela mensagem política, do “outdoor”, enxergo.

QOSHE - “Mensagem” política - Narciso Mendes
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“Mensagem” política

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03.06.2024



Ao passar na rua de S. Martinho, não o faço indiferente a um “outdoor” estacionado junto ao viaduto e à Estação de Serviço local. Nele, pode ler-se o seguinte: “Está parado? Braga também”. Expressão, livre e democrática, sobre a qual não direi aquilo que Maomé disse do toucinho, sob pena de vir a ser censurado pelos novos inquisidores do reino. Aliás, como alguém já foi ao referir-se aos turcos. Mas não resisto dizer que se a atual gestão municipal não é a mais produtiva, põe-se a jeito. Já que a cidade e os seus cidadãos cumprem as tarefas diárias, trabalham e pagam a tempo e horas os seus impostos, apesar do stress e da enorme perda de tempo nas filas de trânsito.

Contudo, associar a lentidão a que circulam os automobilistas à inércia dos poderes camarários, cheira-me a oportunismo da oposição. Mas não deixa de ser numa “farpa” política a quem quase nada tem feito para solucionar o caos rodoviário que, em certas horas do dia, se vive em Braga; a este deixa........

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