É por demais sabido que se todos os cidadãos cumprissem com os seus deveres para com a Nação, isto é: se todos os que podem trabalhassem e os devidos impostos pagassem; o absentismo fosse uma miragem; a economia paralela deixasse de ser uma realidade; a prática das cunhas não existisse, nem houvesse o hábito de corromper políticos, etc., Portugal estaria, hoje, financeira e economicamente muito mais robusto.

Bem como se os nossos eleitos fossem verdadeiros patriotas e estadistas a sério, capazes de evitarem desperdiçar o dinheiro dos contribuintes e dos fundos europeus; dissessem não aos interesses que os dominam; rejeitassem ser corrompidos; etc., este país seria um bom exemplo de um verdadeiro estado de direito democrático europeu e de um crescimento económico invejável.

Depois, se os candidatos a Primeiro-ministro (PM), propostos pelos partidos políticos, recusassem atirar para o ar promessas mirabolantes, nem sempre passíveis de exequibilidade – sempre que há legislativas – a confiança dos portugueses redobraria. Mas não. Acabam por dourá-las com valores que não sabem contabilizar, nem de quanto será o seu impacto no erário público.

Digo isto, porque tenho ouvido da boca do ‘trio’ afeto aos três maiores partidos portugueses – de olhos postos nos 3,6 milhões de votos dos pensionistas e reformados – promessas do céu na terra. Ou seja, se há um que diz querer nivelar as reformas mais baixas pelo Salário Mínimo Nacional (SMN), caso vença as eleições de 10 de março, outros dois há que não lhe ficam atrás. Só que no citado caso deixaria incrédulo todo aquele pessoal que descontou 40 anos, ou mais, para a Segurança Social (SS).

Mormente, quando as pessoas que tiveram uma longa carreira contributiva, viessem a notar que alguns ‘finórios’, que pouco ou nada descontaram na vida, a auferirem um valor igual ou, quiçá, superior ao seu. Tal seria um claro incentivo à fuga ao dever geracional de contribuição para a SS.

Não é ficção. Há sempre astutos a fazê-lo, não declarando rendimentos ao fisco. E com isso, vão usufruindo de benesses do Estado Social, tais com a do SNS grátis, de terem os filhos à borla, caso os haja, nas melhores escolas nacionais, etc.

Infelizmente temos, neste miserável país, muita gentinha a furtar-se aos seus deveres. E neste capítulo concordo com o padre Anselmo Borges quando diz que, a par do “Dia dos Direitos Humanos”, devia criar-se o dos “Deveres”. E o da entidade patronal efetuar os descontos com base no salário real – não sobre o SMN –, seria um deles. Pois não só prejudica a SS, como a reforma dos que vivem de um ordenado superior.

No entanto, quem nunca contribuiu um cêntimo para a SS ainda tem a esperteza saloia de, ainda, se gabar: – “ela há de dar-me alguma coisa” – o que é verdade. Pois os nossos deputados de tanto dormitarem, em vez de legislar, esquecem-se disso. Uma infame distorção de uma realidade existente na nossa sociedade. Sendo, por isso, que temos muita ‘gentalha’ sem escrúpulos a botar figura à custa do próximo.

Neste momento, a campanha eleitoral está impregnada de demagogia e populismo. Basta vermos e ouvirmos os líderes de todos os partidos, da esquerda à direita, a lançarem iscos fáceis de eleitor morder. Ou seja, vantagens de fazerem arregalar os olhos aos ignorantes, enquanto os cautelosos ficam na dúvida sobre se haverá ovo no dito cujo da galinha. Isto é, PIB que as sustente.

Já os outros dois, do ‘trio’ acima citado, andam a acenar com a elevação do SMN para os quatro dígitos e abolição de algumas portagens nas SCUTS. Professando juras de amor eterno aos idosos, com a promessa de um avultado aumento no Complemento Solidário e baixa de impostos. Das duas uma: estarão a prever uma choruda receita do “Lítio”, ou esperam nova bazuca europeia.

Neste generoso “leilão” de apelo ao voto, um pouco mais de contenção não lhes ficaria mal. Uma vez que quem vier a ser eleito PM, vai ter de tirar a prova real às tão propaladas “contas certas” do país.

QOSHE - “DOURADORES” DE PROMESSAS - Narciso Mendes
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“DOURADORES” DE PROMESSAS

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05.02.2024

É por demais sabido que se todos os cidadãos cumprissem com os seus deveres para com a Nação, isto é: se todos os que podem trabalhassem e os devidos impostos pagassem; o absentismo fosse uma miragem; a economia paralela deixasse de ser uma realidade; a prática das cunhas não existisse, nem houvesse o hábito de corromper políticos, etc., Portugal estaria, hoje, financeira e economicamente muito mais robusto.

Bem como se os nossos eleitos fossem verdadeiros patriotas e estadistas a sério, capazes de evitarem desperdiçar o dinheiro dos contribuintes e dos fundos europeus; dissessem não aos interesses que os dominam; rejeitassem ser corrompidos; etc., este país seria um bom exemplo de um verdadeiro estado de direito democrático europeu e de um crescimento económico invejável.

Depois, se os candidatos a Primeiro-ministro (PM), propostos pelos partidos políticos, recusassem atirar para o ar promessas mirabolantes, nem sempre passíveis de exequibilidade – sempre que há legislativas – a confiança........

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