É curioso que alguns reservem para si próprios e/ou para o grupo a que pertencem os melhores comentários, as melhores referências. Tudo o resto são erros e desconformidades que se não devem seguir. Vem isto a propósito de uma entrevista que o ainda primeiro-ministro concedeu no Domingo último ao jornal espanhol “La Vanguardia” na qual falou, entre outras coisas, de populismo, assunto que atribuiu a terceiros e a que chamou de inimigos da democracia.

António Costa afirmou que o populismo tem vindo a crescer, e eu acho que sim, mas já não concordo com os usuários que procurou atingir. Costa quis atribuir o uso da doutrina a partidos da direita, mas a verdade é que se esqueceu que ele próprio e o seu partido a experimentou, diga-se de passagem com sucesso. Não faltam os exemplos. Quando prometeu médico de família a todos os portugueses exagerou ao fazê-lo, abriu a boca mais do que era razoável, para naturalmente ganhar com isso, alimentando que seria possível chegar a um horizonte feliz e falhou redondamente. A realidade ficou muito aquém do que prometeu e até piorou desde a altura em que catalogou o objectivo. Ainda que se tenha desculpado com argumentos de conjuntura, nunca pediu desculpa pelo falhanço e o seu sucessor já veio prometer algo a respeito que certamente não cumpriria igualmente se fosse primeiro-ministro. O mesmo se diga, ainda que não fique por aqui a prática do anúncio de medidas eleitoralistas, a promessa socialista quanto à habitação para todos. Está quase tudo por fazer. O populismo é isto: prometer medidas favoráveis ou agradáveis à população ou que se faz isto e aquilo apenas para consumo de eleitor e poder ganhar sufrágios.

“Chama-lhes antes que te chamem a ti” é uma frase de uso popular que pode bem sintetizar esta estratégia de fuga para a frente com o objectivo de ganhar aderentes e desviar as atenções dos próprios erros e incapacidades. Atribuir aos outros o que há de negativo no populismo é uma forma covarde de esconder incompetências e o seu próprio populismo. António Costa não foi o único a usar o populismo para conquistar o poder ou tentar fugir ao julgamento desfavorável dos eleitores, e não será o único, mas não se livra de ser incluído no rol dos que o usaram para ganhar votos e eleições. Ao contrário do que disse, o populismo não é exclusivo da direita, mas usado igualmente pela esquerda. O exemplo temo-lo em curso. Por isso, não é bonito nem sério atacar o discurso de outros com um mal que não é exclusivo de uma ou outra força política. Os programas eleitorais, da esquerda à direita, estão pejados de intenções irrealizáveis e/ou impossíveis, só para comprar os eleitores, que depois trituram ao longo do tempo por motivos banais.

2. O caminho de paz de Paulo Raimundo

Nos termos em que a definiu, num frente a frente com o secretário-geral socialista, a paz não tem viabilidade. Quando se pede a paz para que um ganhe a guerra, a hipocrisia é evidente e não há mais nada a esperar, a não ser que se considere que um regime ditatorial seja sinónimo de um qualquer paraíso. Na Rússia, esse regime tem vindo a revelar-se e começa a ser contestado, cada vez com mais vigor. Apesar das evidências, não houve da parte do secretário-geral comunista uma palavra de condenação da invasão nem da violência que tem sido exercida sobre os participantes nas manifestações recentes em diversos locais da Rússia.

Já quanto à falta de paz nas ruas de Portugal, Raimundo foi muito mais assertivo. As armas dos trabalhadores são para ser usadas. Nesta parte concordo com ele e ainda quando critica que o respeito pelas finanças públicas só seja defendido pelos governos quando as necessidades sobram do lado de quem precisa, dos cidadãos particulares, ao contrário do que acontece quando é reclamado que se injecte milhares de milhões na banca e noutras empresas, situação em que o dinheiro, que não havia antes, aparece num abrir e fechar de olhos e sem que se pondere a exorbitância e a injustiça.

QOSHE - Chama-lhes antes que te chamem a ti - Luís Martins
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Chama-lhes antes que te chamem a ti

5 1
20.02.2024

É curioso que alguns reservem para si próprios e/ou para o grupo a que pertencem os melhores comentários, as melhores referências. Tudo o resto são erros e desconformidades que se não devem seguir. Vem isto a propósito de uma entrevista que o ainda primeiro-ministro concedeu no Domingo último ao jornal espanhol “La Vanguardia” na qual falou, entre outras coisas, de populismo, assunto que atribuiu a terceiros e a que chamou de inimigos da democracia.

António Costa afirmou que o populismo tem vindo a crescer, e eu acho que sim, mas já não concordo com os usuários que procurou atingir. Costa quis atribuir o uso da doutrina a partidos da direita, mas a verdade é que se esqueceu que ele próprio e o seu partido a experimentou, diga-se de passagem com sucesso. Não faltam os exemplos. Quando prometeu médico de família a todos os portugueses exagerou ao fazê-lo, abriu a boca mais do que era razoável, para naturalmente ganhar com isso, alimentando que seria possível chegar a um horizonte........

© Diário do Minho


Get it on Google Play