O pano ainda não caiu sobre as eleições ocorridas há mais de três dias mas há algumas ilações – ou até lições – a retirar.

A primeira delas é perceber que ainda temos uma democracia imperfeita que não permite corrigir atempadamente erros que a prejudicam.

A confusão e o engano gerado sobre a votação entre a ADN e a AD são profundamente antidemocráticos porque levaram a escolhas falsas que não correspondem ao querer do povo.

A ADN não é culpada por esta confusão uma vez que o partido com esta designação está registado há muito mais tempo que a AD mas a Comissão Nacional de Eleições deveria ter-se apercebido a tempo e, pelo menos, alertar para uma possível confusão .

Deu-se o caso que em certos círculos eleitorais a designação Aliança Democrática – em cujo boletim de voto nem aparecia a sigla AD, em contraposição à Alternativa Democrática Nacional que se apresentava também com a sigla ADN – estava situada no boletim de voto muito abaixo ou até próximo da posição deste partido. O lugar na lista variava em cada circulo eleitoral uma vez que a sua ordem é estabelecida por sorteio.

O boletim de voto do Porto, então, neste aspeto, é uma autêntica desgraça: a ADN foi o quinto partido no boletim de voto e a AD o penúltimo, numa lista com 16 partidos; a consequência foi a que o ADN teve mais de 19.500 votos. É fácil constatar o engano uma vez que nunca se registarem tantos pedidos de repetição de votos precisamente neste partido, como também foi nos círculos eleitorais onde a AD teve mais votos que a ADN teve também maior votação.

Embora a ADN não tenha responsabilidade neste engano adotou, no entanto, um comportamento onde pretendeu tirar consequências deste engano: nos seus cartazes as letras “AD” apareciam com mais destaque do que a letra “N” e tinha cartazes cuja única frase era “Mais do que um partido”.

Embora a Aliança Democrática tenha perdidos votos com isto, se as consequências do erro fossem maiores e levassem a uma alteração dos vencedores ou à constituição de um grupo parlamentar, a escolha democrática do povo seria profundamente atingida e, do meu ponto de vista, teriam de ocorrer novas eleições .

Temos em seguida uma votação muito singular nunca antes ocorrida. O PS deve, hoje em dia, estar muito arrependido do seu comportamento político oportunista e tático – com muita responsabilidade para o Presidente da Assembleia da República – ao ter querido engordar o CHEGA para tentar minorar o PSD, o que fez com que a criatura comesse o criador. O distrito de Braga foi a grande comprovação disto mesmo dado que o PS perdeu 3 deputados e o CHEGA ganhou exatamente esse número de parlamentares devido a votantes do PS que alteraram o seu sentido de voto.

O próximo governo, inspirado no primeiro governo de Cavado Silva, será um governo ágil, com boa e rápida capacidade de decisão, constituído por pessoas prestigiadas que conhecem bem as pastas que ocuparão e com muita sensibilidade política .

A comunicação do governo para com ao país será algo de decisivo. A maneira como souber explicar as suas políticas, a maneira como não permitirá que se construam narrativas falsas sobre o seu desempenho ou as consequências das suas políticas, a maneira como desconstruirá os argumentos dos adversários políticos, à esquerda ou à direita, serão fundamentais para o seu sucesso.

Não é não! e, portanto, nunca haverá sequer acordo parlamentar à direita do PSD, o que não impede o diálogo com os partidos dispostos a tal para a aprovação de diplomas legais em matérias da competência da Assembleia da República.

Além do mais, quem é que se oporá à descida de impostos sobre o trabalho, ao maior desempenho da economia, à possibilidade de maior oferta para a habitação, aos apoios aos jovens para a sua habitação, ao aumento das pensões dos idosos, ao estabelecimento do acordo com os professores e com os polícias, à possibilidade de os alunos terem professores a toda as disciplinas, à valorização da escola pública, ao plano de emergência para a saúde, à decisão sobre o aeroporto e muito mais ?

Contrariamente ao que se ouve e lê por aí, nenhum partido político, desde à esquerda à direita, se atreverá a não aprovar o orçamento do governo para o próximo ano, até porque a abstenção no orçamento não representa qualquer concordância com a política governativa, como o PSD demonstrou no passado quando se absteve em relação a vários orçamentos socialistas.

QOSHE - Teremos um governo para durar - Joaquim Barbosa
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Teremos um governo para durar

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13.03.2024

O pano ainda não caiu sobre as eleições ocorridas há mais de três dias mas há algumas ilações – ou até lições – a retirar.

A primeira delas é perceber que ainda temos uma democracia imperfeita que não permite corrigir atempadamente erros que a prejudicam.

A confusão e o engano gerado sobre a votação entre a ADN e a AD são profundamente antidemocráticos porque levaram a escolhas falsas que não correspondem ao querer do povo.

A ADN não é culpada por esta confusão uma vez que o partido com esta designação está registado há muito mais tempo que a AD mas a Comissão Nacional de Eleições deveria ter-se apercebido a tempo e, pelo menos, alertar para uma possível confusão .

Deu-se o caso que em certos círculos eleitorais a designação Aliança Democrática – em cujo boletim de voto nem aparecia a sigla AD, em contraposição à Alternativa Democrática Nacional que se apresentava também com a sigla ADN – estava situada no boletim de voto muito abaixo ou até próximo da posição deste partido. O lugar na lista variava em cada circulo eleitoral uma vez que a sua ordem é estabelecida........

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