A abrir este artigo impõe-se uma clarificação: não gosto particularmente de futebol e não percebo nada deste desporto. Diria mesmo que os meus conhecimentos sobre este mundo são quase nulos. O que não me impede de prestar atenção ao que é dito e escrito sobre Cristiano Ronaldo e de refletir um pouco... não uma reflexão centrada apenas no jogador, mas mais ampla. Sobre todos nós.
Enquanto seres sociais, precisamos de viver em relação com o outro. Precisamos de experienciar sentimentos de pertença e de segurança que nos permitam depois, gradualmente, explorar o mundo envolvente. Precisamos de ter à nossa volta pessoas que nos suportem e apoiem, de forma concreta, cognitiva e emocional.
Necessitamos ainda de ouvir elogios e incentivos, de ser reforçados positivamente e encorajados a não desistir. Precisamos de ser reconhecidos e aprovados pelas coisas boas que fazemos e de ouvir críticas construtivas face aos erros que (todos) cometemos.
Em suma, precisamos de uma rede (formal e informal) que nos ampare e sustente e que nos ajude a progredir, acreditando em nós mesmos e nos outros.
Inspirada por uma profissional cabo-verdiana que ouvi recentemente, diria que precisamos de uma rede como a dos pescadores. Uma rede que não tem princípio nem fim, feita de malhas entrelaçadas, fortes e resistentes, que se moldam ao tamanho e à forma dos peixes. Que segura e contém e, ao mesmo tempo, se abre para que os peixes possam sair. Uma rede que reconhece o valor do peixe, fonte de alimento e garante da sobrevivência dos povos.
O que dizer quando esta rede de suporte nos falha? Quando rapidamente esquece as nossas conquistas e aponta o dedo face aos erros cometidos? Quando mostra ingratidão, inveja (da má) e ausência de empatia?
Falamos aqui de uma rede frágil, que nos rebaixa e desilude. Que não nos sustém e deixa cair. Acima de tudo, falamos de uma rede que nos envergonha.
Futebóis à parte, sejamos para os outros a rede de que precisamos. Saibamos, por isso, expressar gratidão, empatia e compaixão. Por todos. E também por Cristiano Ronaldo, a quem muito devemos.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal
Qualquer semelhança com o caso Cristiano Ronaldo é pura coincidência
A abrir este artigo impõe-se uma clarificação: não gosto particularmente de futebol e não percebo nada deste desporto. Diria mesmo que os meus conhecimentos sobre este mundo são quase nulos. O que não me impede de prestar atenção ao que é dito e escrito sobre Cristiano Ronaldo e de refletir um pouco... não uma reflexão centrada apenas no jogador, mas mais ampla. Sobre todos nós.
Enquanto seres sociais, precisamos de viver em relação com o outro. Precisamos de experienciar sentimentos de pertença e de segurança que nos permitam........
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