A primeira volta está marcada para 25 de fevereiro e são dezoito os candidatos e duas as candidatas! De certa forma, há que fazer já o elogio destas eleições. Porquê?

Porque o primeiro semestre de 2023 no Senegal teve como debate principal a possibilidade de um terceiro mandato do Presidente (PR) Macky Sall e a legalidade do mesmo. Sentida a opinião pública e as elites, em julho passado o PR encerra o debate afirmando que não seria candidato a um terceiro mandato. A importância da decisão é simbólica e efectiva. Simbólica porque na “África dos Sobas”, a tradição prevalece sobre a Constituição e efectiva porque está aí, é real e reforça o simbolismo da excepção, do como deveria de ser sempre e Macky Sall e o Senegal estão a dar o exemplo, a agir em conformidade, a forçar a probabilidade de uma “África de Compromisso”, que não veja o modelo democrático enquanto invasão, enquanto aculturação.

Quanto aos candidatos, o novelo tem-se desfiado interessante e previsível. O delfim de Macky Sall, é também o Primeiro-Ministro (PM) Amadou Ba e deverá, segundo os “búzios eleitorais”, ser eleito, com maior ou menor dificuldade, no conjunto das duas voltas. Trata-se também do candidato mais próximo de Paris e da União Europeia. Sall ficou conhecido no velho Continente como “democrata no estrangeiro, intransigente no Senegal” e Ba deverá seguir-lhe os passos. É preciso falar a linguagem que a União Europeia quer para “levar a água ao seu moinho”. A dupla Sall/Ba, domina este código! Por outro lado, é do interesse dos “sahelianos golpistas” (Mali, Burquina e Níger), que “as águas continuem de bacalhau” no palácio que manda no porto de Dakar, principal ponto de abastecimento de uma vasta hinterlândia, com início precisamente no Senegal (Karita, na ponta sudeste, dista apenas 470km de Bamako) e que se estende África adentro até à contracosta.

A previsibilidade desta “evolução na continuidade”, ganha ainda mais campo, após a invalidação das pré-candidaturas dos dois principais líderes da oposição, Karim Wade (filho do ex-PR Abdoulaye Wade, considerado inelegível por ter dupla nacionalidade) e Ousmane Sonko, candidato da ruptura e verdadeiro unificador da oposição à situação. Em prisão e com cadastro, lida ainda com o anátema de um julgamento por abuso sexual, do qual foi ilibado. Natural e facilmente, o Conselho Constitucional justificou o chumbo à candidatura daquele cuja capacidade de unificação de uma juventude emergente, faz desconfiar ”O Estabelecimento”! Este é aliás um dado demográfico transversal a toda a África, as novas gerações que estão a mudar as probabilidades eleitorais, as tendências, as vontades.

De regresso às eleições, as não candidaturas de Wade e de Sonko, provocaram uma dispersão de candidatos de uma oposição que já não é oposição, já que as principais figuras têm sempre alguma ligação ao PR Sall. Os antigos PM’s Idrissa Seek e Mahammed Boun Abdallah Dionne, são os que terão melhor hipótese numa segunda-volta que consiga capitalizar a tal “juventude inquieta por rupturas só porque sim”! Khalifa Sall, ex-PR da Câmara de Dakar, é outro candidato do “mainstream” e Bassirou Diomaye Diakhar Faye é o candidato substituto de Ousmane Sonko, mas sem a capacidade magnética deste, pelo que servirá de dispersor de votos. As candidatas, são Rose Wardini, uma ginecologista e activista social e Anta Babacar Ngom, uma jovem empresária avicultora.

Bon Courage Senegal!


Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt

QOSHE - Senegal – Presidenciais 2024 - Raúl M. Braga Pires
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Senegal – Presidenciais 2024

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26.01.2024

A primeira volta está marcada para 25 de fevereiro e são dezoito os candidatos e duas as candidatas! De certa forma, há que fazer já o elogio destas eleições. Porquê?

Porque o primeiro semestre de 2023 no Senegal teve como debate principal a possibilidade de um terceiro mandato do Presidente (PR) Macky Sall e a legalidade do mesmo. Sentida a opinião pública e as elites, em julho passado o PR encerra o debate afirmando que não seria candidato a um terceiro mandato. A importância da decisão é simbólica e efectiva. Simbólica porque na “África dos Sobas”, a tradição prevalece sobre a Constituição e efectiva porque está aí, é real e reforça o simbolismo da excepção, do como deveria de ser sempre e Macky Sall e o Senegal estão a dar o exemplo, a agir em conformidade, a forçar a probabilidade de uma “África de Compromisso”, que não veja o modelo democrático enquanto........

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