Marrocos foi o mais recente “peso, que começa a ser pesado”, na “diplomacia das pontes e das oportunidades”, ao anunciar o envio de 40 toneladas de ajuda humanitária para Gaza, a partir de Telavive, seguindo por terra até Kerem Shalom, ponto de passagem entre Israel e Gaza, onde já chegou. Que momento é este?

O momento é o da criatividade possível, no sentido de adiar, para já, a investida israelita sobre Rafah. O modelo foi “imposto” no início do mês pela Administração Biden, ao “deslargar para o ar” uma “ponte aérea para Gaza” com ajuda humanitária a ser entregue por para-quedas. Reino Unido, França, Egipto e Jordânia já o tinham feito, mas a iniciativa americana é a pressão possível face à intransigência do PM israelita, para negociar um cessar-fogo. E resultou, já que logo de seguida a União Europeia anunciou a abertura de um “corredor marítimo para Gaza” a partir do Chipre. A partir desse momento o Ramadão 2024/1445 em curso, passa a ter garantias de ser mais previsível e menos amargo.

Israel, “apanhado nesta curva” e com o imperativo de não aparecer vezes demais enquanto o vilão da fita, não teve outra alternativa a não ser “acrescentar carruagens a este comboio humanitário”, aprovando o Programa Alimentar Mundial enquanto distribuidor da ajuda canalizada para gaza, em substituição da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, vulgo UNRWA.

Em resumo, a criatividade possível foi esta “diplomacia humanitária”, que tem resultado “nuns paninhos quentes”, que apesar de tudo têm travado as vontades do PM israelita em acabar com os cinco batalhões restantes do Hamas, sitos em Rafah, na fronteira com o Sinai.

A decisão do Rei de Marrocos, Mohamed VI (MVI), em enviar estas 40 toneladas de ajuda para Gaza, vem eivada de toda uma simbólica que assenta que nem uma luva nos interesses marroquinos.

Em primeiro, MVI para além de monarca é também Presidente do Comité al-Quds, a autoridade islâmica que lida e gere as consequências culturais, políticas, sociais, religiosas e de Direitos Humanos em Jerusalém, decorrentes do conflito israelo-palestiniano. Uma vez mais, os pergaminhos da dinastia alauita vêm ao de cima com a naturalidade da Tradição. É que o Bayt Mal al-Quds Agency, uma “casa comum dos ministros das finanças” dos países membros do Comité al-Quds, foi criado após sugestão do falecido Rei Hassan II, em 1995. Ou seja, em Rabat há um telefone vermelho com ligação a Ramallah e naturalmente também, parte dessas 40 toneladas têm como destino al-Quds, Jerusalém em português;

Em segundo, Marrocos ao acrescentar “carruagens ao comboio humanitário internacional”, está a ajudar Israel a mitigar a imagem de vilão, ao proporcionar um “canal terrestre” a um aliado árabe. Marrocos será incentivador a que Israel se junte à coluna humanitária e “perca tempo” que permita a ambas as partes dormirem sobre os assuntos durante este “momento letárgico alimentado a jejum”, onde se dorme de dia e se vive à noite;

Em terceiro, Marrocos precisa de sinalizar à Umah, à “Nação Islâmica”, que não abandonou os palestinianos, nem os relegou para segundo plano, conforme foi acusado por vizinhos, parceiros e demais organizações, após adesão aos Acordos de Abraão em dezembro de 2020. Marrocos, à mesma distância de Israel que Portugal, alinha na posição lusa num “nada contra Israel, tudo pela Palestina”!

Votos de Ramadan Kareem a Todos/as.

www.maghreb-machrek.pt (em reparação)

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Ramadão 1445 – Da “Diplomacia Humanitária”!

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15.03.2024

Marrocos foi o mais recente “peso, que começa a ser pesado”, na “diplomacia das pontes e das oportunidades”, ao anunciar o envio de 40 toneladas de ajuda humanitária para Gaza, a partir de Telavive, seguindo por terra até Kerem Shalom, ponto de passagem entre Israel e Gaza, onde já chegou. Que momento é este?

O momento é o da criatividade possível, no sentido de adiar, para já, a investida israelita sobre Rafah. O modelo foi “imposto” no início do mês pela Administração Biden, ao “deslargar para o ar” uma “ponte aérea para Gaza” com ajuda humanitária a ser entregue por para-quedas. Reino Unido, França, Egipto e Jordânia já o tinham feito, mas a iniciativa americana é a pressão possível face à intransigência do PM israelita, para negociar um cessar-fogo. E resultou, já que logo de seguida a União Europeia anunciou a abertura de um “corredor........

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