O Presidente Emanuelle Macron propôs, durante a visita que efectuou esta semana a Israel, Jordânia e Egipto, a criação de uma coligação internacional contra o Hamas. Proposta prática e inteligente, já que em teoria bastaria reerguer a coligação internacional formada para combater o Estado Islâmico (EI), até porque neste momento quem está a segurar a "bandeira do Islão Político" que em tempos foi levantada pela Al-Qaeda e posteriormente pelo EI, é precisamente o Hamas! Porque é que esta "proposta macroniana" nunca irá para a frente?

Porque a narrativa israelita de sobrevivência (Faraó, diáspora, holocausto e todas as pequenas e grandes humilhações que todas as famílias judaicas têm para contar) obrigam Israel a provar que é o senhor do seu destino, não dependendo hoje de ninguém para continuar a consolidar aquilo que conquistou, Eretz Israel, a Terra de Israel, o "torrão judaico" que finalmente serve de porto de abrigo a todos/as judeus do mundo, deixando em definitivo a imagem do "judeu errante pelo mundo", lá na Idade Média, juntamente com todos os anátemas que carregam às costas desde a pré-Inquisição. Por isso tudo, Israel não cederá neste ponto.

Em segundo, porque os americanos são de momento "gatos escaldados" perante coligações internacionais, tendo Afeganistão e Iraque, como dos momentos mais negros da sua política externa.

O problema do Hamas são os Acordos de Abraão e uma potencial adesão para breve aos mesmos, da Arábia Saudita. Aliás, o modelo desta iniciativa da Administração Trump, obedece a um faseamento lógico. Foi por isso mesmo que o Bahrein, uma espécie de "Berlengas da Arábia Saudita com governo próprio", é integrada numa primeira fase que inclui também os Emirados Árabes Unidos em setembro de 2020. A segunda fase incluiu Marrocos e República do Sudão, em dezembro do mesmo ano e em janeiro de 2021. Desde esse momento até aqui, trabalhava-se discretamente na adesão da Arábia Saudita, cujos sinais indicavam que até ao final do ano seria o próximo signatário a regularizar relações diplomáticas e comerciais com Israel. Ora a vitória que Israel não pode oferecer de mão beijada à "Internacional Terrorista", agora encabeçada pelo Hamas, é a destruição destes acordos, cujo objectivo é o de uma pacificação do Médio Oriente, de Alexandria à fronteira iraquiana com o Irão.

Israel, em coligação com os signatários de Abraão, mais Egipto, Jordânia e Arábia Saudita, confrontaria o mundo árabe com a prova da vontade de mudança efectiva para uma paz possível, que tal qual Abraão se consolidaria com o passar do tempo, juntamente com a desconstrução dos estereótipos criados ao longo de séculos entre ambos os povos, como já acontece entre israelitas e árabes dos Emirados, por via do convívio conjunto proporcionados pelo turismo e comércio que "explodiu", sem mortos nem feridos, entre os dois países, desde 2020. Por outro lado, transportaria de imediato a Arábia Saudita e outros vizinhos como o Qatar (obrigados a não perderem este "comboio"), para o patamar dos moderados, mais preocupados com o desenvolvimento económico e menos, com o desenvolvimento religioso. Mais, as ambições nucleares sauditas, em coligação com Israel, passariam a serem toleráveis, já que o Irão ficaria ainda mais isolado e vulnerável, face a esta frente unida.

Dito por um português, "tudo isto é triste, tudo isto é fado", mas é a forma que este português, adepto de Abraão, tem de ver o mais construtivo dos caminhos, no meio de tanto escombro e de tantos cadáveres!

Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt (em reparação)
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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Das propostas de "coligação macroniana e raulesca"!

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27.10.2023

O Presidente Emanuelle Macron propôs, durante a visita que efectuou esta semana a Israel, Jordânia e Egipto, a criação de uma coligação internacional contra o Hamas. Proposta prática e inteligente, já que em teoria bastaria reerguer a coligação internacional formada para combater o Estado Islâmico (EI), até porque neste momento quem está a segurar a "bandeira do Islão Político" que em tempos foi levantada pela Al-Qaeda e posteriormente pelo EI, é precisamente o Hamas! Porque é que esta "proposta macroniana" nunca irá para a frente?

Porque a narrativa israelita de sobrevivência (Faraó, diáspora, holocausto e todas as pequenas e grandes humilhações que todas as famílias judaicas têm para contar) obrigam Israel a provar que é o senhor do seu destino, não dependendo hoje de ninguém para continuar a consolidar aquilo que conquistou, Eretz Israel, a Terra de Israel, o "torrão judaico" que........

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