A decorrer em Marraquexe desde quarta-feira e com conclusões a serem apresentadas hoje, sexta-feira 10, podemos já dizer que a palavra que mais ouvimos em todos os painéis de comunicação, foi "infraestruturas". Uma das conclusões é já esta, as lideranças africanas, quando falam entre si, começam a perder um certo pudor em assumirem que faltam os essenciais como estradas, pontes, um porto de águas profundas, uma cobertura eficaz de partes do território com geradores a gasóleo (à falta de melhor e no permanente improviso), com acesso à internet, com rede para telemóveis e computadores, do mais visível ao agora cada vez mais invisível. Todos estes temas foram "abordados de caras", no decorrer de um evento que pretende angariar fundos e vontades para uma "abordagem africana à realidade africana". Esta, a realidade, "grita pelo básico, uma enxada e um telemóvel"!

A diferença, nos resultados imediatos só pode ser feita com uma inversão total da abordagem. Por isso mesmo, as "machambas", os campos de cultivo e até as pequenas hortas comunitárias, poderão/deverão passar a integrar as preocupações sociais das grandes empresas, dos verdadeiros "tubarões" dos hidrocarbonetos e dos minerais preciosos. Como?

O "Projecto Compacto Lusofonia" explica!

O Africa Investment Forum também contempla o "Projecto Compacto Lusofonia", que considera um sucesso. Em 2017, de visita a Lisboa, o Presidente do Banco Africano para o Desenvolvimento (BAD), Akinwumi A. Adesina, abordou a ideia de Portugal contribuir para um modelo de investimento de maior proximidade com os PALOP, onde o investimento tivesse impacto directo e significativo nas comunidades mais próximas do mesmo. Uma empresa de gás, em Moçambique, investe numa machamba de algodão, que por sua vez o canaliza directamente para uma linha industrial de teares, produz tecidos e coloca-os no mercado. Tudo investimento da empresa de gás. Chama-se "economia social". Ainda em Moçambique, o projecto de gasoduto "Mozambique LNG Area 1", avaliado em 27 mil milhões de dólares, teve um contributo de 400 milhões de dólares do BAD. Em Angola, um projecto de lacticínios, desde a criação das vacas à produção de leite e manteiga em pacote, de 50 milhões de dólares e que produzirá 45 milhões de litros de leite embalados/ano, é também exemplo desta abordagem de investimento a partir da base, a partir de investimento externo captado pelo BAD (o BAD convence potenciais investidores). No acordo estabelecido entre BAD e Portugal, no ano seguinte, 2018, ficámos enquanto fiadores de 400 milhões de euros em investimentos não soberanos a serem feitos nos PALOP.

Não foi "mais do mesmo" o que ouvimos nestes três "dias de mercado africano" em Maraquexe e regressamos às "infraestruturas" para assinalar mais uma vontade comum no continente. A importância do lítio e do cobalto, sobressaem enquanto "novo estratégico" e as ideias vão no sentido da sua verdadeira valorização enquanto activo africano, em tudo depender da criação de uma rede de infraestruturas e acesso a "inovações locais" que também permitam boas práticas laborais, na preocupação de outros rótulos que se colaram a outros "estratégicos africanos", como os diamantes.

Organizado pelo Banco Mundial e sob o Alto Patrocínio de Sua Majestade o Rei Mohamed VI, este evento provocou-nos um interesse genuíno em acompanharmos estas "histórias com dimensão humana", a do rico que ajuda o pobre com a "enxada e a cana-de-pesca", em vez da cenoura e da canastra de peixe!

Politólogo/Arabista

www.maghreb-machrek.pt (em reparação)

O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - Africa Investment Forum – O "Projecto Compacto Lusofonia" - Raúl M. Braga Pires
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Africa Investment Forum – O "Projecto Compacto Lusofonia"

7 0
10.11.2023

A decorrer em Marraquexe desde quarta-feira e com conclusões a serem apresentadas hoje, sexta-feira 10, podemos já dizer que a palavra que mais ouvimos em todos os painéis de comunicação, foi "infraestruturas". Uma das conclusões é já esta, as lideranças africanas, quando falam entre si, começam a perder um certo pudor em assumirem que faltam os essenciais como estradas, pontes, um porto de águas profundas, uma cobertura eficaz de partes do território com geradores a gasóleo (à falta de melhor e no permanente improviso), com acesso à internet, com rede para telemóveis e computadores, do mais visível ao agora cada vez mais invisível. Todos estes temas foram "abordados de caras", no decorrer de um evento que pretende angariar fundos e vontades para uma "abordagem africana à realidade africana". Esta, a realidade, "grita pelo básico, uma enxada e um telemóvel"!

A diferença, nos resultados........

© Diário de Notícias


Get it on Google Play