Este é um fim de semana gordo para os amantes do futebol. Com o Natal à porta, quem não fica feliz com uma jornada em que, para além de entrarem em campo os 18 grandes que dão corpo à Liga BetClic, o nosso campeonato da I Divisão, se dá a coincidência de todos os quatro primeiros se encontrarem entre si. Sporting, Porto, Benfica e Braga, que por esta ordem ocupam os lugares cimeiros da classificação, entram na jornada com a possibilidade de, qualquer um, dela sair no lugar de topo do número de pontos.

Diz-se que para se estar mais bem posicionado para o sucesso, seja qual for a atividade, é necessário ter educação sólida, infraestruturas de apoio de qualidade, abertura à concorrência e custos de contexto favoráveis ao crescimento. O futebol profissional, enquanto maior indústria do entretenimento em Portugal, não é exceção. Ainda assim, apresenta no nosso país características de excecionalidade que merecem atenção. Desde logo, é a única atividade nacional que produz, numa base regular, atores e eventos de classe mundial, nomeadamente jogadores, árbitros, dirigentes, clubes e competições internacionais. Claro que a cereja no topo do bolo é Cristiano Ronaldo, mas a lista é muito extensa, pelo que nem me atrevo a tentar elencar, pois esquecer-me-ia certamente de muitos. Depois, é necessário recordar que o futebol profissional é a ponta do icebergue que dá maior visibilidade a um extenso ecossistema de prática desportiva, com todos os benefícios que isso implica para a sociedade. Os jovens (não só no futebol, naturalmente) aprendem a cultura física, cuidam da saúde, contactam com realidades diversas multiculturais e multilingues, integram-se em dinâmicas de grupo e de equipa, reforçam a sua consciência ética, sem barreiras de raça, credo ou condição social. Os mais novos querem chegar às equipas seniores, os amadores sonham em ser profissionais, os nacionais aspiram a internacionais. É toda uma cultura de mérito que raramente se encontra noutros campos da sociedade.

No futebol, o sistema de educação chama-se formação e, em Portugal, é de classe mundial. Jovens saídos dos nossos clubes brilham por cá e por todos os continentes. Também os treinadores acumulam títulos pelo globo. Nas infraestruturas, desde o Euro2004, o país avançou muito e hoje tem condições muito dignas para o treino e a competição, importando não descurar a continuidade do investimento. A abertura à concorrência chama-se competitividade e existe desde o jogador que, numa posição específica, tem a concorrência de um ou mais colegas para entrar na convocatória do próximo jogo, até à equipa que, uma ou duas vezes por semana, entra em campo para disputar três pontos ou a passagem a uma fase mais avançada de uma competição. Assim foi, por exemplo, esta semana, com quatro clubes portugueses a seguir em frente nas competições europeias.

O que resta, então? Os custos de contexto. Numa comparação com o que se passa em muitos dos campeonatos na Europa, na Ásia e na América, verifica-se que o enquadramento fiscal dos clubes, dos jogadores e das competições é menos favorável em Portugal, ao nível dos impostos sobre o trabalho (IRS), os lucros (IRC) e o consumo (IVA). Vem aí a concentração dos direitos televisivos, que é um dos pilares do futebol profissional em toda a Europa, e seria desejável encontrar um enquadramento específico que favorecesse um maior crescimento e afirmação do nosso futebol. Para além disso, sabendo-se que esta é uma atividade que, na sua essência, atravessa fronteiras, a tributação dos jogadores estrangeiros e dos portugueses que regressam a Portugal é crítica e merece, também ela, um regime específico.

Professor catedrático

QOSHE - Futebol: uma cultura de mérito - José Mendes
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Futebol: uma cultura de mérito

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17.12.2023

Este é um fim de semana gordo para os amantes do futebol. Com o Natal à porta, quem não fica feliz com uma jornada em que, para além de entrarem em campo os 18 grandes que dão corpo à Liga BetClic, o nosso campeonato da I Divisão, se dá a coincidência de todos os quatro primeiros se encontrarem entre si. Sporting, Porto, Benfica e Braga, que por esta ordem ocupam os lugares cimeiros da classificação, entram na jornada com a possibilidade de, qualquer um, dela sair no lugar de topo do número de pontos.

Diz-se que para se estar mais bem posicionado para o sucesso, seja qual for a atividade, é necessário ter educação sólida, infraestruturas de apoio de qualidade, abertura à concorrência e custos de contexto favoráveis ao crescimento. O futebol profissional, enquanto maior indústria do entretenimento em Portugal, não é exceção. Ainda assim, apresenta no nosso país características de excecionalidade que merecem........

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