A menos de um mês da visita dos portugueses às urnas, são poucas as certezas. As sondagens revelam uma complexa aritmética, com PS e PSD tecnicamente empatados, com o bloco das forças de esquerda mais disponível a negociar coligações, mas encolhido perante as forças à direita, essas condenadas a entender-se com um parceiro que ninguém assume querer para conseguir um Governo estável. E entre líderes partidários, nenhum tem caminho tão estreito quanto Pedro Nuno Santos.

Nas costas, o líder socialista carrega o peso de ter pertencido aos últimos Governos socialistas, o que funcionou em registo de geringonça, mas também o que desbaratou uma maioria parlamentar absoluta, numa suicida sucessão de casos e casinhos. Pedro Nuno também carrega a sua dose de polémicas, dos esquecimentos, das decisões por WhatsApp e até um raspanete público do antecessor por ter anunciado fora de tempo a localização do novo aeroporto. Também não faltam trunfos, mas serão necessários dotes de equilibrista para os colocar vigorosamente na mesa.

A Pedro Nuno pede-se que conquiste o centro, sem que afaste as forças mais à esquerda de quem, necessariamente, dependerá o seu futuro. A Pedro Nuno pede-se que troque a pose de enfant terrible, “jovem turco” na gíria socialista, por uma de estadista, sem que perca a autenticidade. A Pedro Nuno pede-se que transforme em força a experiência governativa e, porque não, partidária, sem que se lhe cole a imagem de boy, de ser apenas mais um produto do aparelho socialista.

Nas tabelas, sejam as que indicam o aumento do salário médio, a quebra da dívida pública ou o crescimento económico do país, Pedro Nuno Santos tem armas para o debate que se seguirá, o que realmente interessa, entre socialistas e eleitores. Mas serão suficientes para compensar os danos causados pelo caos instalado nas forças de segurança, na Saúde e na Educação? Serão suficientes para compensar as ondas de choque de uma inédita crise na habitação? Será a aritmética dos indicadores sociais e económicos suficiente para desfazer a saturação instalada nas ruas quanto à governação socialista? Conseguirá Pedro Nuno Santos convencer os portugueses de que, como disse António Costa, “só o PS pode fazer melhor que o PS”?

Fácil não será. Certo é que o caminho é estreito e que qualquer deslize se pode revelar fatal, para quem chega com o balanço de uma maioria absoluta, mas que concorre numa luta por décimas que, afinal, até podem estar num partido ao lado. Dotes de equilibrista nunca foram tão necessários a um candidato a primeiro-ministro.

Subdiretor do Diário de Notícias

QOSHE - O equilibrista Pedro Nuno Santos - Filipe Garcia
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O equilibrista Pedro Nuno Santos

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20.02.2024

A menos de um mês da visita dos portugueses às urnas, são poucas as certezas. As sondagens revelam uma complexa aritmética, com PS e PSD tecnicamente empatados, com o bloco das forças de esquerda mais disponível a negociar coligações, mas encolhido perante as forças à direita, essas condenadas a entender-se com um parceiro que ninguém assume querer para conseguir um Governo estável. E entre líderes partidários, nenhum tem caminho tão estreito quanto Pedro Nuno Santos.

Nas costas, o líder socialista carrega o peso de ter pertencido aos últimos Governos socialistas, o que funcionou em registo de geringonça, mas também o que desbaratou uma........

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