Acontece nas mesas de póquer, sempre que a tensão atinge os maiores picos, quando a jogada se prevê determinante. As fichas são empurradas na totalidade para o centro, as cartas voltadas para cima, abandona-se a cadeira e é em pé que se espera pela resposta do adversário. Na mesa ficam todos os argumentos, toda a fortuna ganha no jogo e, nas mãos, o coração. E o que virá do outro lado? Com o adversário fica a informação mais desejada, os trunfos da concorrência, mas também a pressão de saber o desfecho final, que a derrota pode ser inevitável e que mesmo a vitória será menorizada pela audácia do oponente, esse que tudo arriscou, sem nada esconder. Na política, como no póquer, tanto mais se ganha quanto menos se esconde.

Na política o fim de semana foi de jogo, mas foram poucas as cartas colocadas na mesa. Pelo menos, no que à jogada decisiva diz respeito. Afinal, tudo indica que, ganhe quem ganhar, ninguém ficará senhor de todas as fichas. E com quem jogarão Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro?
Em Lisboa, na FIL, a festa foi do PS, com Pedro Nuno Santos, em estreia como líder, a anunciar medidas e promessas e a reafirmar o desejo de uma vitória contundente. Ao Norte, pouco depois de fechado o congresso socialista, na Alfândega do Porto, Luís Montenegro assinava com Nuno Melo e Gonçalo da Câmara Pereira, respetivamente líderes de CDS e PPM, a versão 2.0 da AD. Pelo Porto, foi o Serviço Nacional de Saúde quem acabou eleito como prioridade política em caso da vitória também desejada. Mas além do timing e da meta, outro ponto uniu os dois maiores partidos nacionais. Numa altura em que as sondagens contradizem sonhos de resultados absolutos, as coligações pós-eleitorais adivinham-se inevitáveis e sobre isso, nada disseram.

Dirão uns que são os programas o que realmente interessa e que os parceiros minoritários pouco ou nada os influenciam. Também há quem diga o contrário, que em coligação são os pequenos quem manda e que para o provar basta lembrar como acabou a Geringonça. Outros dirão que há parceiros e parceiros. E ainda haverá quem defenda que será a aritmética a ditar com quem se sentarão os grandes partidos à mesa de negociações. Pontos válidos e que, ainda assim, não me parecem suficientes para um jogo que se quer aberto.

Colocar as cartas na mesa não é jogada obrigatória, mas enobrece o jogo, evita acusações de deslealdade por parte dos adeptos e, no limite, engrandece a vitória. Independentemente do lado da mesa em que se esteja sentado.

Subdiretor do Diário de Notícias

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Meus senhores, e as cartas na mesa?

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09.01.2024

Acontece nas mesas de póquer, sempre que a tensão atinge os maiores picos, quando a jogada se prevê determinante. As fichas são empurradas na totalidade para o centro, as cartas voltadas para cima, abandona-se a cadeira e é em pé que se espera pela resposta do adversário. Na mesa ficam todos os argumentos, toda a fortuna ganha no jogo e, nas mãos, o coração. E o que virá do outro lado? Com o adversário fica a informação mais desejada, os trunfos da concorrência, mas também a pressão de saber o desfecho final, que a derrota pode ser inevitável e que mesmo a vitória será menorizada pela audácia do oponente, esse que tudo........

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