A Pessoa Humana é um ser sociável e, por isso, constituiu-se em estruturas sociais organizadas para se relacionar com outros, se desenvolver, e poder criar uma riqueza que lhe permitisse viver melhor, com maior capacidade de suprir as suas necessidades e com maior conforto, segurança e felicidade.

Para isso, necessitava criar normas de convívio que assegurassem a estabilidade da convivência e que garantisse que aqueles objetivos fossem atingidos: um sistema de justiça que atuasse na defesa dessas normas e permitissem a sua continuidade.

Nas pequenas sociedades em que todos se conheciam e que eram essencialmente da mesma família, com naturalidade toda a estrutura se foi criando baseada na primazia do chefe de família que, com o conhecimento que tinha dos seus membros e com a liderança reconhecida pela estrutura familiar/societária assumia todas as funções de legislador e de justiceiro que, com maior ou menor razoabilidade, mantinham a sociedade a funcionar.

Assim, ao longo de milénios a sociedade foi sendo construída e, à medida que se ia tornando maior começou a necessitar de definir princípios e valores que fossem comuns a todos os membros dessa sociedade e que garantissem a sua estabilidade e continuidade.

Com o aumento do número de participantes, deixou de ser possível ouvir cada um e tornou-se necessária a criação de um sistema que desse oportunidade a todos de manifestar a sua opinião sobre a governação da sociedade, e ao mesmo tempo permitisse uma liderança que assegurasse a manutenção e aplicação daqueles princípios.

Assim nasceu a sociedade democrática ocidental, fundada nos valores Judaico-cristãos, e que sobre eles construiu toda a realidade da Europa que hoje conhecemos.

Ora são estes valores cristãos da vida, da centralidade da pessoa humana, do respeito pela liberdade de cada um, da preocupação sobre os mais desfavorecidos, da consciência de que os bens devem estar ao serviço de todos e de que cada um deve ser participante das decisões que afetam a sua vida, sempre sob os princípios da verdade, da liberdade e da justiça, que foram a base da criação na política, da democracia cristã.

Ao longo dos tempos os políticos que foram responsáveis tentaram defender estes valores e princípios em face da pressão em que foram vivendo e condicionados pelas realidades de cada momento.

Momentos houve em que foram mais claros e óbvios na sua afirmação e defesa, e outros em que a influência do politicamente correto e do acomodar à aceitação da maioria dos líderes de opinião acabaram por dar ao público uma ideia de desfasamento entre a prática política e os seus ideais.

Foi isso que levou ao desaparecimento em muitos países desses partidos e que promoveu a aparição de outros que, defendendo muitos daqueles valores, são maioritariamente oportunistas e que deixarão esses valores no momento em que tal não lhes garanta ganhar eleições.

A política do século XXI necessita voltar a recuperar a base de valores em que se deve basear a sociedade, sob pena daqueles virem a ser substituídos por teorias inventadas de novos valores e princípios que nunca garantirão a sobrevivência das sociedades e da pessoa humana com a dignidade que lhe é absolutamente devida.

A democracia cristã, defendendo verdadeiramente aqueles princípios e valores é a única garantia de solução para o futuro das sociedades democráticas. Outras soluções estão a promover o fim da democracia, principalmente porque com facilidade aceitam valores que não são nem verdadeiros, nem reais nem sequer defensores da dignidade humana.

A dignidade humana não reside na satisfação imediata de desejos constantes, como afirmam essas mesmas teorias, mas sim na procura constante de um crescimento na vida, que sempre será difícil e duro, mas que sempre termina com uma maior felicidade profunda e não passageira.

PS: Este é o último artigo que publico no DN. Agradeço à Rosália Amorim o convite e aos leitores a paciência analítica e entusiasmo com que ao longos dos anos foram lendo e comentando estes textos. Procurei sempre manter-me fiel aos meus princípios, nunca perdendo o espírito crítico nem nunca hesitando no elogio. É assim que a vida deve ser vivida. Desejo ao Diário Notícias sucesso, porque a democracia não resiste sem imprensa livre.

QOSHE - Em defesa de valores perenes - Bruno Bobone
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Em defesa de valores perenes

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19.04.2024

A Pessoa Humana é um ser sociável e, por isso, constituiu-se em estruturas sociais organizadas para se relacionar com outros, se desenvolver, e poder criar uma riqueza que lhe permitisse viver melhor, com maior capacidade de suprir as suas necessidades e com maior conforto, segurança e felicidade.

Para isso, necessitava criar normas de convívio que assegurassem a estabilidade da convivência e que garantisse que aqueles objetivos fossem atingidos: um sistema de justiça que atuasse na defesa dessas normas e permitissem a sua continuidade.

Nas pequenas sociedades em que todos se conheciam e que eram essencialmente da mesma família, com naturalidade toda a estrutura se foi criando baseada na primazia do chefe de família que, com o conhecimento que tinha dos seus membros e com a liderança reconhecida pela estrutura familiar/societária assumia todas as funções de legislador e de justiceiro que, com maior ou menor razoabilidade, mantinham a sociedade a funcionar.

Assim, ao longo de milénios a sociedade foi sendo construída e, à medida que se ia tornando maior........

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