ivemos um tempo muito difícil. Todos os valores que acreditávamos ser a base de estrutura da nossa sociedade estão a ser postos em causa por aqueles que hoje detêm o poder e que pretendem mudar aquilo que foi o Mundo que conhecemos nas últimas longas décadas.

Assistimos hoje a presidentes de países que promovem o assalto às próprias instituições que representam o poder que os elegeram e que representam.

Assistimos a presidentes que são corruptos e que depois de presos são reconduzidos às suas presidências.

Assistimos a invasões de países pelos seus vizinhos sem qualquer razão causando a destruição de populações e das suas casas, apenas pelo interesse em aumentar a expansão do seu território de influência.

Assistimos a organizações terroristas que têm como único objetivo o genocídio de outros povos a promover atos de terror e de barbárie absurdamente violentos e selvagens, sem que o Mundo os ostracize por completo do seu apoio.

Assistimos a uma guerra de vingança -- apesar do direito de retaliação mundialmente aceite de um Estado atacado poder-se defender -- que muito afetará as populações civis.

Assistimos a uma organização terrorista a utilizar crianças como escudos de defesa das suas estruturas de guerra sem que ninguém clame contra eles. (Todos dizem que Israel deve abster-se de matar civis e principalmente crianças, mas não ouvi ninguém exigir ao Hamas deixar de utilizar esses mesmos civis como escudos humanos.)

Mas este tempo foi permitido por todos nós.

Sentámo-nos numa civilização que recebemos das gerações anteriores e deixámos cair tudo aquilo que garantia o êxito da sua continuidade.

O valor do trabalho, o respeito pelo outro, a responsabilidade pessoal e comunitária, a exigência e o rigor, a verdade sobre todos os assuntos e a justiça em todas as nossas ações, foram sempre a base da vida democrática construída pela Europa do pós-guerra. Contudo, nas últimas décadas, temos vindo a ser muito permissivos relativamente a estas exigências que garantiam a sobrevivência das instituições que asseguravam a sobrevivência em qualidade desta nossa sociedade.

A aceitação de comparar um ato de defesa de um Estado, ainda que possa ser considerado demasiado pesado ou mesmo inaceitável naquilo que respeita ao risco de vidas inocentes, aos atos vândalos de uma organização terrorista que tem como único objetivo o genocídio de um povo, é o apogeu desta relativização do rigor, da verdade e da justiça que nos condenará a aceitar que destruamos todas as bases essenciais do nosso modo de viver e da sociedade que tanto custou a construir.

A permissividade relativa a atitudes inaceitáveis por parte de quem se declara minoria acabará por destruir a qualidade de vida que as gerações anteriores tanto lutaram para a criar e que é, só e mais nada, a sociedade onde essas mesmas minorias querem viver. Tornando assim o Mundo num lugar aberto ao caos e à destruição que levará ao abuso dos mais fracos e dos mais desprotegidos que hoje, em teoria, pretendemos defender.

A aceitação das teorias de que se pode tudo e de que o bem das minorias pode ser conseguido à custa do sofrimento de todos os outros, está totalmente contra os princípios essenciais da democracia em que se afirma que a" minha liberdade termina quando implica com a liberdade alheia".

Acreditar que é permitindo abusos e desculpando comportamentos negativos que se conseguirá um mundo melhor é um erro. O mesmo erro que levou à instalação do comunismo da União Soviética, ao estabelecimento do regime Nazi na Alemanha e a tantos outros tempos de desgraça neste nosso planeta.

Tenhamos coragem de parar este caminho.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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Coragem para dizer não

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03.11.2023

ivemos um tempo muito difícil. Todos os valores que acreditávamos ser a base de estrutura da nossa sociedade estão a ser postos em causa por aqueles que hoje detêm o poder e que pretendem mudar aquilo que foi o Mundo que conhecemos nas últimas longas décadas.

Assistimos hoje a presidentes de países que promovem o assalto às próprias instituições que representam o poder que os elegeram e que representam.

Assistimos a presidentes que são corruptos e que depois de presos são reconduzidos às suas presidências.

Assistimos a invasões de países pelos seus vizinhos sem qualquer razão causando a destruição de populações e das suas casas, apenas pelo interesse em aumentar a expansão do seu território de influência.

Assistimos a organizações terroristas que têm como único objetivo o genocídio de outros povos a promover atos de terror e de barbárie absurdamente violentos e selvagens, sem que o Mundo os........

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