Portugal está a mudar. As eleições deste fim de semana nos Açores deram a primeira vitória à nova AD. Mas trouxeram-nos também outras realidades que vale a pena compreender.

Se, por um lado, o peso do voto dos eleitores açorianos se manteve essencialmente consolidado nos partidos do centro político, o voto nos partidos mais radicais sofreu um enorme transtorno, passando da esquerda para a direita com uma expressão significativa.

Assim, a maioria votou, tanto nas eleições de 2020 como nas de 2024, nos partidos do centro, com cerca de 80%; mas o eleitorado afirmou-se de esquerda em 47% nas eleições de 2020, passando a 42% em 2024, e votou à direita 49% em 2020, passando a representar 53% em 2024. Como foi repetidamente afirmado por todos os comentadores políticos na própria noite de domingo, não se podem retirar ilações diretas dos resultados registados nas eleições dos Açores para o que se irá passar no próximo dia 10 de março em todo o país.

Contudo, e porque a mudança que aqui retratei parece ser uma realidade mais global e não apenas a verificada nas ilhas açorianas, creio que será bom olhar para o que apontam as sondagens publicadas nesta segunda-feira relativamente à próxima composição da Assembleia da República.

Se compararmos os resultados eleitorais de 2022 com esta última sondagem vamos encontrar fenómenos na mesma linha dos que acabei de descrever e que demonstram também que o eleitorado nacional se transferiu de uma forma mais significativa da esquerda para a direita.

Assim, ainda que o voto nos partidos moderados do centro político se mantém com uma pequena quebra à volta dos 70%, a escolha dos eleitores no que respeita às propostas apresentadas pelos partidos resulta numa transformação de 53% de votos à esquerda e de 42% à direita, para uma realidade totalmente nova de 39% para o conjunto dos partidos da esquerda e 57% para a direita.

Independentemente das possibilidades de governação que possam sair deste panorama eleitoral e de que tipo de mudança vamos realmente assistir no dia a dia da nossa governação por causa desta mudança, o que não fica em dúvida é que este país, que quase sempre esteve à esquerda desde o 25 de Abril, apresenta-se como um povo que vê na direita a solução que procura para resolver os problemas com que se tem confrontado.

Não é uma realidade de Portugal, pois há muito assistimos por esse mundo fora a exemplos em que a esquerda faliu na sua proposta de solução ao eleitorado. E há casos – em França por exemplo – em que as eleições se disputam entre um partido de direita moderado e um partido de direita radical, sendo que os moderados se arriscam a perder inclusivamente essa batalha.

Ora, a esquerda está a falir no seu combate pelo eleitorado por razões diversas, mas que estão muito ligadas com a sua evolução: de defensora das pessoas (da sua dignidade e qualidade de vida) passou a defender “ideologias” quase sempre marcadas pela permissividade e pelo facilitismo.

Os seus líderes defendem hoje teorias que não utilizam nas suas vidas pessoais, como a escola pública e a saúde pública, vivem vidas iguais aos capitalistas que continuam a criticar e não estão próximas nem apoiam com soluções reais a quem pretendem cativar o voto.

Sentados nos seus gabinetes, pactuando com negócios e amizades, foram-se desligando da realidade dos seus eleitores.

Acreditaram que permitir tudo, seja na escola, seja na saúde, seja na imigração, seja na ordem pública, lhes traria o voto do povo, como aconteceu no princípio.

Mas, agora, o povo está a dar-se conta de que aquelas belezas sonhadas e prometidas não passaram de uma falácia e que a realidade não é, nem de perto nem de longe, aquela maravilha que os iria fazer viver no mundo do Peter Pan, em que todos seríamos felizes sem ter de trabalhar, sem ter de respeitar e sem ter de colaborar.

Portugal mudou, a esquerda perdeu a guerra. Vamos ver se juntos, os que ainda são moderados, conseguem voltar a dar ao povo a confiança dos valores, dos critérios e da segurança, que evite que o caminho siga até ao extremo.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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A falência da esquerda e a perda de valores

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09.02.2024

Portugal está a mudar. As eleições deste fim de semana nos Açores deram a primeira vitória à nova AD. Mas trouxeram-nos também outras realidades que vale a pena compreender.

Se, por um lado, o peso do voto dos eleitores açorianos se manteve essencialmente consolidado nos partidos do centro político, o voto nos partidos mais radicais sofreu um enorme transtorno, passando da esquerda para a direita com uma expressão significativa.

Assim, a maioria votou, tanto nas eleições de 2020 como nas de 2024, nos partidos do centro, com cerca de 80%; mas o eleitorado afirmou-se de esquerda em 47% nas eleições de 2020, passando a 42% em 2024, e votou à direita 49% em 2020, passando a representar 53% em 2024. Como foi repetidamente afirmado por todos os comentadores políticos na própria noite de domingo, não se podem retirar ilações diretas dos resultados registados nas eleições dos Açores para o que se irá passar no próximo dia 10 de março em todo o país.

Contudo, e porque a mudança que aqui retratei parece ser uma........

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