Deixei esta semana a presidência da Assembleia Geral do Fórum Oceano.

Foram 14 anos de luta para conseguir que Portugal tome consciência do extraordinário recurso que detém, que poderá ser o elemento transformador deste país, há muito habituado a ver-se como pobre e pequeno, que poderá tornar-se pelo estudo e pelo aproveitamento do mar, um dos países com um futuro mais prometedor.

Ao apoiar, através da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, o estudo do Professor Ernâni Lopes sobre o Hypercluster da Economia do Mar, não tinha consciência de que estava a começar um caminho longo na promoção deste recurso a que o professor chamou de identitário, pela forma como ele pode transformar a realidade do nosso país.

O mar é para Portugal um recurso único, seja pela sua dimensão – Portugal tem 90 mil km2 de território continental e poderá ter cerca de 3 milhões e novecentos mil km2 – seja pela importância que terá no futuro do Mundo.

Vivemos uma época em que praticamente conhecemos tudo na face continental do nosso planeta. Mas o que poderá condicionar a nossa maneira de viver no futuro está completamente dependente do que conseguirmos aproveitar dos recursos do mar.

E foi com muito entusiasmo que fui acompanhando uma quantidade de entidades, públicas e privadas, desde autarquias a empresas e individualidades, que conseguiram sempre ultrapassar as dificuldades e trabalhar em união para promover o mar e o seu desenvolvimento.

Ao fim destes anos é com muita satisfação que reconheço que muito foi feito por todos aqueles que se dedicam a trabalhar no e para o mar.

Aquilo que não consegui, nem conseguiu este Fórum Oceano, foi convencer os diferentes governos de Portugal de que, apesar de o mar não votar e apesar de os seus resultados não servirem para ganhar as próximas eleições, o desenvolvimento deste recurso pode transformar a vida dos nossos concidadãos de uma forma única, a ponto de lhes permitir ambicionar um dia a ter uma vida com um rendimento digno que promova o seu bem-estar e a sua felicidade.

Durante uma década e meia conseguimos juntar organizações públicas e privadas, conseguimos fundir organizações de diferentes geografias em Portugal, conseguimos criar uma união entre todos os que participaram neste projeto, apenas falhámos em conseguir convocar os governantes a acreditar que Portugal merece mais do que apenas gerir o imediato e sobreviver com o pouco que temos.

O mar está ligado a todas as áreas da vida económica, cultural e social do nosso país, seja através dos transportes de todos os produtos que consumimos, das matérias-primas que importamos e dos produtos que exportamos, seja no desenvolvimento das nossas competências de produção de energia, na área da biologia, da química, do entretenimento, enfim, em tudo o que diz respeito à nossa vida.

Portugal tem um dos maiores territórios marítimos europeus, o que nos devia fazer uma das maiores potências mundiais na relação com o mar e, por isso, na relação com o desenvolvimento do futuro. Ao descurar este potencial, os nossos governantes estão a fazer um muito mau serviço ao país e aos portugueses.

Durante década e meia fui incapaz de fazer ver esta realidade aos líderes políticos e aos fazedores de opinião da nossa praça, mas espero que a próxima década possa ser diferente e que possamos voltar a pôr Portugal à frente dos interesses dos partidos e da ambição de ganhar eleições.

bruno.bobone.dn@gmail.com

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Ó mar salgado, futuro de Portugal

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05.04.2024

Deixei esta semana a presidência da Assembleia Geral do Fórum Oceano.

Foram 14 anos de luta para conseguir que Portugal tome consciência do extraordinário recurso que detém, que poderá ser o elemento transformador deste país, há muito habituado a ver-se como pobre e pequeno, que poderá tornar-se pelo estudo e pelo aproveitamento do mar, um dos países com um futuro mais prometedor.

Ao apoiar, através da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, o estudo do Professor Ernâni Lopes sobre o Hypercluster da Economia do Mar, não tinha consciência de que estava a começar um caminho longo na promoção deste recurso a que o professor chamou de identitário, pela forma como ele pode transformar a realidade do nosso país.

O mar é para Portugal um recurso único, seja pela sua dimensão – Portugal tem 90 mil km2 de território continental e poderá ter........

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