Após uns ataques a pinturas em museus surgiram os assaltos com tinta a políticos em palestras…
Não advogo o exercício da violência, em circunstância alguma. E, como não a advogo em ciscunstância alguma, fez-me impressão ver as reacções exarcebadas, caracterizando o acto de verter tinta como um acto de violência física, e, por isso, indistinguível de outros que levem à morte ou a danos corporais severos. Foram mesmo comparados a atentados terroristas.
Ora o comedimento era bom, porque se tudo é igual, então nada é diferente, e fazer um atentado que mate é igual a atirar um ovo a um político (uma tradição antiga que esses comentadores fingem ignorar).
Mas e as pinturas, deus meu!… Vândalos!… isso em nada ajuda o ambiente. Foi exactamente o que pensei no primeiro caso noticiado, o dos girassóis do Van Gogh… Depois percebi que a pintura, assim como todas as outras, estava protegida por um vidro de segurança. O acto apenas tinha sujado esse vidro, não estragou a pintura.
Mas sabem qual a relação? Por breves instantes tive, eu, a sensação de perda de um bem insubstituível. Algo que se tinha perdido para sempre. Património desaparecido. Depois percebi que não era assim, mas entretanto conheci a angústia da perda, eu e todos. E isto sim, tem a ver com as questões ambientais, alterações climáticas e colapso da biodiversidade. Todos os dias se perdem espécies (Van Goghs naturais) no olvido dos deuses sem sequer fazerem notícia. Perdem-se para sempre, fisicamente e não figurativamente.
Recomendo ouvir as declarações da Madalena Wallenstein, pessoa do sector da cultura, sobre essa questão.
E os ovos e a tinta?… ao ministo das finanças? e ao ministro do ambiente? que estava numa palestra sobre as alterações climáticas com a Galp e EDP (aguarda-se uma palestra sobre cancro do pulmão do ministro da saúde com participação da Phillip Morris e Tabaqueira).
As reacções, de políticos e comentadores foram muito semelhantes, para além da equiparação a violência terrorista, utilizaram a comparação entre este protesto “mau” e o protesto “bom”. Todos a referirem os adolescentes que puseram os governos em tribunal europeu e que o tribunal aceitou. “Assim, sim” disseram, “assim é que é uma forma construtiva de protestar”.
Então vamos lá espreitar que comentários mereceu, dos políticos e governantes, esta forma construtiva de protestar:
– “Meras suposições ou hipóteses vazias”;
– não apresentam argumentos “de forma convincente nem com informação factual sólida”;
– “os requerentes não residem numa área reconhecida como estando em particular risco de calor devido aos impactos das alterações climáticas”.
– as metas de Paris e o “alegado” limite de 1,5ºC não são vinculativas;
– “o Governo português insiste em que este caso deve ser considerado inadmissível e deve ser rejeitado”.
Refira-se que o Tribunal Europeu aceitou a acção e que esta conta com o apoio e testemunhos de especialistas da ONU e IPCC,entre outros.
Ficamos a saber como, afinal, é tratada a forma “boa” de protesto… e depois surpreendem-se e rasgam as vestes com uns ovos e uma esguichadela de tinta verde…

Notas soltas
A Câmara Municipal da Figueira da Foz irá expandir o corredor verde do Vale das Abadias em cinco hectares.
A Câmara Municipal de Coimbra prossegue o seu programa de abate de árvores adultas financiado por fundos ambientais destinados à adaptação às alterações climáticas.

QOSHE - O terror da tinta verde - Mário Reis
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O terror da tinta verde

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02.11.2023

Após uns ataques a pinturas em museus surgiram os assaltos com tinta a políticos em palestras…
Não advogo o exercício da violência, em circunstância alguma. E, como não a advogo em ciscunstância alguma, fez-me impressão ver as reacções exarcebadas, caracterizando o acto de verter tinta como um acto de violência física, e, por isso, indistinguível de outros que levem à morte ou a danos corporais severos. Foram mesmo comparados a atentados terroristas.
Ora o comedimento era bom, porque se tudo é igual, então nada é diferente, e fazer um atentado que mate é igual a atirar um ovo a um político (uma tradição antiga que esses comentadores fingem ignorar).
Mas e as pinturas, deus meu!… Vândalos!… isso em nada ajuda o ambiente. Foi exactamente o que pensei no primeiro caso noticiado, o dos girassóis do Van Gogh… Depois percebi que a........

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