Já era noite quando naquele final de tarde do mês de Outubro de 2021 os membros de um dos três clubes rotários de Coimbra se dirigiam apressados para a sua reunião semanal de companheirismo. Estava anunciada uma palestra, a realizar por uma jovem de uma associação de apoio ao albinismo em Moçambique. A sala encheu.
Durante os 20 minutos da prelecção a assistência, inicialmente descontraída e ruidosa foi emudecendo, a crueza descritiva dos slides que passavam na tela e o discurso timbrado mas sentido da jovem palestrante absorviam a atenção e a respiração dos presentes.
Descrevia a tragédia que é a vida daquelas pessoas que nascem sem pigmentação da pele num mundo que não as apoia e as persegue. Sem possibilidade de saírem à rua durante o dia pelo sofrimento da exposição ao Sol, com dificuldades visuais extremas, vitimas de violência psicológica e física, de crenças populares, de raptos e mutilações e até assassinatos.
No final a Drª Matilde lançou um repto ao Clube: apoiem as pessoas que sofrem de albinismo em Moçambique.
Esta realidade, desconhecida para a grande maioria dos presentes, tornou-se uma inquietação e uma grande vontade começou a germinar. Associaram-se clubes rotários de Coimbra e de Montemor para ajudar. Com a parceria entusiasmada da Associação Kanimambo, que estabeleceu o contacto com grupos de apoio em Moçambique e algumas empresas solidárias – surgiu o projecto KANIMAMBO.
No ano de 2022 os clubes rotários de Coimbra, através de várias acções solidárias, apoiaram com cremes protectores e cicatrizantes. No ano de 2023 fizeram uma proposta mais alargada dentro do movimento rotário e foi aprovado o fornecimento de 51 pares de óculos graduados e personalizados contemplando crianças, jovens e adultos com Albinismo em Nampula, Moçambique, através da Associação Kanimambo.
Em 6 de janeiro de 2024, com a participação de elementos de clubes rotários locais, foram entregues os 51 pares de óculos.
Aliando os conhecimentos da sua profissão de optometrista, um elemento do Clube rotário de Montemor deslocou-se à cidade de Nampula, onde realizou os ajustes necessários e entregou os óculos pessoalmente. Contou com o apoio logístico da Associação Kanimambo, do Hospital Central de Nampula e da Cáritas Diocesana de Nampula.
A recuperação da visão é um factor relevante para a melhoria da autonomia no estudo e no trabalho, na integração na vida social. Mas acima de tudo esta é uma experiência de solidariedade humana que para alem do aumento da autoestima e da qualidade de vida, contribui para o retomar da dignidade de que estas pessoas, absolutamente discriminadas na sociedade moçambicana, necessitam na sua vida quotidiana.
Não estão sozinhos. Este é um projecto para continuar.

QOSHE - Kanimambo - Luís Filipe
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Kanimambo

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13.04.2024

Já era noite quando naquele final de tarde do mês de Outubro de 2021 os membros de um dos três clubes rotários de Coimbra se dirigiam apressados para a sua reunião semanal de companheirismo. Estava anunciada uma palestra, a realizar por uma jovem de uma associação de apoio ao albinismo em Moçambique. A sala encheu.
Durante os 20 minutos da prelecção a assistência, inicialmente descontraída e ruidosa foi emudecendo, a crueza descritiva dos slides que passavam na tela e o discurso timbrado mas sentido da jovem palestrante absorviam a atenção e a respiração dos presentes.
Descrevia a tragédia que é a vida daquelas pessoas que nascem sem pigmentação........

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