Em cerimónia que decorreu no passado sábado, o nome de Carlos Santarém Andrade foi atribuído à Sala de Leitura da Biblioteca Municipal de Coimbra, de que ele foi dedicado Director ao longo de muitos anos. Falecido no pretérito mês de Janeiro, Carlos Santarém Andrade foi um notável bibliotecário, investigador incansável e autor de várias obras de relevo. Na juventude, teve um papel muito activo na chamada “Crise Académica de 1969”, sendo da sua lavra grande parte dos desenhos clandestinos que naquela época circularam, aos milhares, entre os estudantes, satirizando a repressão policial sobre eles exercida.
Na justa homenagem póstuma agora prestada (e integrada nas comemorações do centenário da Biblioteca Municipal) uma das intervenções coube a João Gouveia Monteiro, ex-Director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), que alertou para o facto de estar o edifício “a rebentar pelas costuras”. É um problema que se agrava cada dia que passa, por ser uma das bibliotecas portuguesas que tem o estatuto de Depósito Legal – isto é, recebe um exemplar de todas as publicações que se editam no nosso País (ou seja, à volta de 15 mil livros por ano, o que exige centenas de metros lineares de estantes para os acolher).
Ao usar da palavra, o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra sublinhou que o mesmo problema enfrenta a Biblioteca Municipal (que igualmente usufrui do estatuto de Depósito Legal). José Manuel Silva lembrou, a propósito, a reiterada proposta de que seja construída uma nova prisão em terreno já indicado para o efeito, na Lamarosa, e que às actuais instalações seja dado outro uso – como, por exemplo, acolher as duas bibliotecas.
A proposta que o autarca apresentou ao Ministério da Justiça (sem que tenha obtido, até ao momento, qualquer reacção…) preconiza que sejam privados a construir o novo complexo prisional, em troca do aproveitamento do actual, por um determinado período.
Recorde-se que a Penitenciária de Coimbra, edificada em finais do séc. XIX, ocupa uma vasta área numa das zonas mais nobres da cidade (entre o Quartel de Santana e o Parque de Santa Cruz). O complexo prisional aloja mais de meio milhar de reclusos – em más condições, pois o edifício está degradado.
A sugerida utilização para as bibliotecas parece interessante. Mas não é a única possível.
Já em tempos houve propostas no sentido de ali ser criado um grande centro cultural.
Outra hipótese que julgo pertinente e exequível, seria a transformação num grande complexo residencial para estudantes, o que atenuaria a falta de camas numa altura em que o elevado preço do alojamento está a obrigar muitos jovens a interromper os seus estudos. Uma questão também apontada pelo novo Presidente da Associação Académica de Coimbra, Renato Daniel, na tomada de posse dos recém-eleitos dirigentes da AAC (que decorreu na passada segunda-feira, sob a presidência do Magnífico Reitor, num Auditório da Reitoria a transbordar de estudantes, professores e funcionários da UC).
Enfim, seja qual for o destino que escolham para o futuro, uma atitude se impõe, com a maior brevidade: libertem a prisão!

QOSHE - Libertem a prisão! - Jorge Castilho
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Libertem a prisão!

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13.12.2023

Em cerimónia que decorreu no passado sábado, o nome de Carlos Santarém Andrade foi atribuído à Sala de Leitura da Biblioteca Municipal de Coimbra, de que ele foi dedicado Director ao longo de muitos anos. Falecido no pretérito mês de Janeiro, Carlos Santarém Andrade foi um notável bibliotecário, investigador incansável e autor de várias obras de relevo. Na juventude, teve um papel muito activo na chamada “Crise Académica de 1969”, sendo da sua lavra grande parte dos desenhos clandestinos que naquela época circularam, aos milhares, entre os estudantes, satirizando a repressão policial sobre eles exercida.
Na justa homenagem póstuma agora prestada (e integrada nas comemorações do centenário da Biblioteca Municipal) uma das intervenções coube a João........

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