Eu gostava de continuar a comer salada russa, mas pelos dias que correm, fica difícil conseguir. Aconteceu esta semana quando fui a um restaurante no norte do país, onde um dos pratos mais icónicos era a dita salada com filetes de pescada. Era, já não é. Tenho que dizer que andava a aguar por aquela salada a combinar com os filetes. Deixei para uma noite especial ir lá e comer aquela, que eu considero, ser uma das melhores criações da arte da cozinha. Mas, nada feito. Foi-me dito que agora os filetes eram servidos com arroz malandrinho. Recusei e saí porta fora. Não jantei, desgostosa que estava.

Não é que tenha alguma coisa contra o arroz caldoso, até gosto bastante, mas nada substitui uma boa salada russa. E, muito menos, me parece lógico esta agressividade contra a coitada da salada russa. É que não faz mesmo sentido. Só porque existe um conflito entre a Ucrânia e a Rússia não considero que tenhamos de deitar ao chão tudo o que tem a ver com a cultura. Até podemos ficar chocados com o drama bélico e o impato que tem sobre as pessoas, mas decerto, será bom não misturar a vontade de um regime com a cultura que a Rússia abrange.

A propósito de tudo isto, tenho sentido por parte de alguns amigos de nacionalidade russa o mau estar que, por vezes, sentem e a necessidade que têm de disfarçar a sua origem, o seu sotaque, os seus hábitos. Porventura já pensaram no drama que os cidadãos russos também estão a viver? Não estaremos a confundir o que é uma parte com o todo? Sei que as pessoas não têm de pagar pela arrogância e prepotência de quem chega ao poder e seria bom que não fechássemos o sorriso a um cidadão russo apenas porque não concordamos com o que está a acontecer.

Mas, voltando à salada russa, gostava que não a tirassem das ementas. Gostava que não lhe mudassem o nome. A salada russa é e será, sempre, um lugar feliz da cozinha portuguesa. Daquela que aprendeu a usar a maionese e a trouxe para os degraus da democratização, fazendo com que todos pudessem saborear aquela textura macia, aquele agridoce de um creme que, misturado com legumes humildes como a batata, o feijão verde e a cenoura, ficasse um pitéu de grande categoria. Que alegria é comer uma salada russa, não me tirem essa alegria.

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“À Mesa com Portugal – Elogio à Salada Russa”

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12.04.2024

Eu gostava de continuar a comer salada russa, mas pelos dias que correm, fica difícil conseguir. Aconteceu esta semana quando fui a um restaurante no norte do país, onde um dos pratos mais icónicos era a dita salada com filetes de pescada. Era, já não é. Tenho que dizer que andava a aguar por aquela salada a combinar com os filetes. Deixei para uma noite especial ir lá e comer aquela, que eu considero, ser uma das melhores criações da arte da cozinha. Mas, nada feito. Foi-me dito que agora os filetes eram servidos com arroz malandrinho. Recusei........

© Diário As Beiras


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