No dia 5 de dezembro de 2013, Nelson Mandela faleceu com 95 anos. Nos últimos 10 anos, a África do Sul pós-‘apartheid’, e democrática, sentiu o “peso” da perda que sofreu e o significado prático do seu desaparecimento, restando-lhe a esperança de que volte. Nelson Mandela levou o partido Congresso Nacional Africano (ANC), antigo movimento de libertação, a vencer as primeiras eleições multipartidárias, em 1994. Trinta anos depois, o país tornou-se uma democracia e o ANC enfrenta a sua liquidação política. Um percurso de governação que se parece com uma tragédia em três actos. As eleições de 1994 foram relevantes para o nascimento da democracia no país. Trinta anos depois, as eleições gerais de 2024 vão determinar a trajetória política, económica e social da África do Sul. Isto é, se catapultou para um Estado “falhado” ou se se mantém edificado na fundação democrática criada pelo líder histórico. Para assinalar a data, a Fundação Nelson Mandela organizou também uma exposição, em Joanesburgo. “Nelson Mandela is Dead” insta os sul-africanos a uma profunda reflexão; a confrontarem a sua realidade atual sem a liderança de Mandela, questionando: “O que diria Mandela se estivesse aqui hoje? O que faria? As coisas seriam assim se Nelson Mandela ainda estivesse aqui?”. “Essas perguntas são tristezas não realizadas”, sublinha, referindo-se à governação da África do Sul pós-‘apartheid’ pelo ANC em coligação com o Partido Comunista (SACP) e a confederação sindical COSATU, também de orientação marxista-leninista. “Na realidade, queremos que Nelson Mandela volte. Queremos que ele nos salve novamente. Através desta exposição, queremos destacar a urgência do contexto em que vivemos e reconhecer que ninguém vem nos salvar”, adianta a Fundação Nelson Mandela. O estado de frustração e de desespero atual está subjacente ao afastamento das novas elites do ANC do pensamento, ética e princípios de Nelson Mandela, acusando-o até de “traição”. E por isso, o partido no poder fez desaparecer o seu projeto “Nação do Arco Íris”, optando por fomentar a discriminação racial, a desigualdade social, a pobreza, a corrupção e o nepotismo. Mandela lutou uma vida inteira pela dignidade humana, a igualdade, e a união do povo sul-africano. Mas, hoje, está esquecido na África do Sul democrática por aqueles que libertou e esteve encarcerado durante 27 anos de uma vida por todos.

QOSHE - O que faria Mandela hoje ? - Carlos Henriques
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O que faria Mandela hoje ?

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05.12.2023

No dia 5 de dezembro de 2013, Nelson Mandela faleceu com 95 anos. Nos últimos 10 anos, a África do Sul pós-‘apartheid’, e democrática, sentiu o “peso” da perda que sofreu e o significado prático do seu desaparecimento, restando-lhe a esperança de que volte. Nelson Mandela levou o partido Congresso Nacional Africano (ANC), antigo movimento de libertação, a vencer as primeiras eleições multipartidárias, em 1994. Trinta anos depois, o país tornou-se uma democracia e o ANC enfrenta a sua liquidação política. Um percurso de governação que se parece com uma tragédia em três........

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