Apesar de ser bastante subestimada pelos decisores políticos, a economia da noite desempenha um papel crucial no tecido social e económico das cidades, mormente nas que têm aspirações e vocação turística.
Quando o sol se põe, uma nova cidade emerge. Uma cidade vibrante, animada por um ecossistema dinâmico que fomenta a cultura, inovação, diversidade, inclusão e diversão.
Cafés, restaurantes, bares e discotecas tornam-se epicentros de interação social, onde residentes e turistas convergem para desfrutar da gastronomia local, música e cultura.
Do ponto de vista económico, este setor desempenha um papel muito relevante na economia das cidades, pois gera emprego (maioritariamente jovem), atrai investimento, dinamiza a reabilitação urbana, promove a segurança, melhora a experiência cultural e turística da cidade e estimula a economia local, assumindo-se, ainda, como um grande contribuinte de taxas e impostos municipais.
Um estudo recente da Associação das Indústrias da Noite do Reino Unido indica que este setor é responsável por um volume de negócios anual de 100 mil milhões de libras, representando cerca de 4% do PIB, e por quase 3 milhões de postos de trabalho, que representam cerca de 9% do emprego naquele país.
Por cá, não são conhecidos estudos que dimensionem e quantifiquem o valor económico da economia da noite, mas acredito que tenha um peso semelhante, quer ao nível do emprego quer da criação de riqueza, ao registado no Reino Unido.
Em Braga, em particular, creio que a quantidade e diversidade da oferta tem, ainda, um grande caminho a percorrer. O potencial de crescimento da economia da noite é enorme se considerarmos que se trata duma das cidades mais jovens do país e da europa, duma das cidades com os maiores índices de crescimento demográfico e de procura turística do país, duma cidade que tem uma aposta estratégica na promoção da cultura, duma cidade altamente cosmopolita e inclusiva e duma cidade que tem um estilo de vida, e condições climáticas, altamente propenso a saídas à noite para lazer e convívio social.
Apesar dos seus benefícios sociais e económicos, a economia da noite enfrenta também alguns desafios como a questão do ruído e da segurança. Por isso, para maximizar o seu potencial é essencial um planeamento urbano que integre políticas que equilibrem a vida noturna com o bem-estar dos residentes. Um planeamento harmonioso que considere todos os stakeholders e promova um ambiente noturno seguro, inclusivo e próspero.
Mas, o espírito destas políticas não pode ser o da restrição e do bloqueio à atividade económica, porque uma regulamentação municipal restritiva é altamente castradora da economia e do surgimento de novos projetos e novos operadores. Pelo contrário, o espírito do decisor na definição das suas políticas urbanas tem de ser pela positiva. O estabelecimento de regras equilibradas de funcionamento dos agentes económicos que promovam um convívio saudável entre economia, cultura e qualidade de vida dos cidadãos (residentes e turistas), conjugado com o reforço da oferta de transportes públicos, de policiamento e da limpeza urbana noturna, são exemplos de medidas municipais que podem ajudar a transformar a noite numa experiência segura e agradável para todos.
Creio que é chegado o momento de se reconhecer o setor da economia da noite como um bem social valioso, que é parte integrante das nossas cidades, da nossa cultura e da nossa economia. Um setor que, para além do seu impacto económico, tem um papel fundamental na coesão social, na humanização da vida urbana, na promoção da saúde mental e bem-estar dos cidadãos e na criação de uma imagem positiva das cidades à escala global. Um setor digno que merece uma regulamentação e políticas ativas que o promova e valorize.

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“A economia da noite”

19 0
03.05.2024

Apesar de ser bastante subestimada pelos decisores políticos, a economia da noite desempenha um papel crucial no tecido social e económico das cidades, mormente nas que têm aspirações e vocação turística.
Quando o sol se põe, uma nova cidade emerge. Uma cidade vibrante, animada por um ecossistema dinâmico que fomenta a cultura, inovação, diversidade, inclusão e diversão.
Cafés, restaurantes, bares e discotecas tornam-se epicentros de interação social, onde residentes e turistas convergem para desfrutar da gastronomia local, música e cultura.
Do ponto de vista económico, este setor desempenha um papel muito relevante na economia das cidades, pois gera emprego (maioritariamente jovem), atrai investimento, dinamiza a reabilitação urbana, promove a segurança, melhora a experiência cultural e turística da cidade e estimula a economia local, assumindo-se, ainda, como um grande contribuinte de taxas e impostos municipais.
Um estudo recente da Associação das Indústrias da Noite do........

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