As eleições legislativas, realizadas no domingo passado, deram a Portugal um novo ciclo político liderado por Luís Montenegro. É ele o grande vencedor das eleições, será ele o Primeiro-Ministro. Na campanha e nos debates, Luís Montenegro demonstrou competência, preparação e serenidade. A vitória é clara, ainda que tenha sido obtida por uma pequena margem. Há que notar que à direita da Aliança Democrática, o Chega e a Iniciativa Liberal (IL) tiveram mais de 23% dos votos, o que valoriza os 29,5% da AD.
A tarefa será difícil e o trabalho será árduo, uma vez que a Aliança Democrática não terá a possibilidade de formar um governo apoiado por uma maioria na Assembleia da República.
É evidente que Luís Montenegro terá de dialogar e negociar com os grupos políticos que estão na Assembleia da República. Exige-se abertura, sensatez e responsabilidade por parte de todos os partidos mas, sobretudo, ao Partido Socialista. O tempo dirá se Pedro Nuno Santos se comporta com um moderado ou como um radical. Veremos se defenderá, em primeiro lugar, o interesse nacional e só depois o interesse partidário.
A esquerda tradicional é a grande derrotada. Pedro Nuno Santos, líder do PS, perdeu cerca de 500 mil votos face às eleições de 2022. O Bloco de Esquerda manteve o mesmo número de deputados (5), o PCP/PEV passou de 6 para 4 deputados, e o PAN manteve a sua líder como única representante. A esquerda encolheu em número de votos e de mandatos tendo perdido a folgada maioria que possuía.
André Ventura não ganhou, mas é quem mais reclama a vitória. A verdade é que o Chega, existindo apenas desde 2019, teve um crescimento exponencial. Nestas últimas eleições, passou para pelo menos 48 deputados, o que representa o quádruplo face a 2022, e ainda não estão apurados os resultados para a eleições de dois deputados pelo círculo da Europa e dois fora desse círculo. Há mais de um milhão de portugueses que votaram neste partido radical de direita.
Acredito que a esmagadora maioria destes votos não são de pessoas racistas ou xenófobas. São, sim, o resultado do desencanto e da descrença, da frustração e da falta de esperança nas Instituições que resultam das políticas que têm sido executadas em Portugal e do estado em que os últimos anos de governação socialista nos deixou.
A IL aumentou o número de votos face a 2022, mas manteve os 8 mandatos na Assembleia da República.
O Livre de Rui Tavares também pode “cantar” vitória: passou de 1 para 4 deputados, consegue formar Grupo Parlamentar e igualou o PCP. O líder do Livre trouxe uma esquerda mais arejada e inova- dora, uma esquerda mais tolerante e aberta. Recorde-se que em 2009, Rui Tavares foi eleito Eurodeputado pelo Bloco de Esquerda, mas nesse mesmo ano abandonou o grupo político e o partido pelo qual foi eleito e passou os verdes no Parlamento Europeu. Só mais tarde fundou o Livre.
O resultado foi positivo para Portugal, positivo para a AD. Mas não posso deixar de registar como negativo os votos que foram para a ADN (Alternativa Democrática Nacional) mas que se destinariam à AD (Aliança Democrática). Esta confusão entre siglas desvirtuou o resultado e levou a que a AD perdesse 3 deputados - um no distrito de Lisboa, outro em Viseu e ainda em Coimbra. A ADN não elegeu nenhum deputado mas ao retirar votos à AD acabou por beneficiar o PS. A ADN acaba por beneficiar de um montante anual de cerca de 390 mil euros através da subvenção partidária, uma vez que passou de 10.000 votos em 2022 para mais de 100.000 votos em 2024.
Nestas eleições, houve uma descida da abstenção para valores que não existiam desde 1995. Estou convencido que a maioria dos votos resultantes desta descida foram maioritariamente para o Chega.
No distrito de Braga, a AD teve um resultado muito positivo tendo atingido os 33,16%, o que representa mais de 4% em relação à média nacional. Assim, a AD elegeu 8 deputados em Braga e o PS perdeu 3 face a 2022, tendo obtido apenas 6 mandatos. É estranho, de difícil explicação, que dos 6 eleitos do PS não haja ninguém de Vila Nova de Famalicão e Barcelos. A IL elegeu confortavelmente neste distrito o líder nacional Rui Rocha com cerca de 34000 votos. Hugo Soares, cabeça de lista da AD no distrito de Braga, fez uma campanha notável e exigente, tendo-se desdobrado entre compromissos nacionais e distritais. A mobilização ajudou a que no distrito de Braga a abstenção tenha sido a mais baixa de Portugal, tendo passado de 36,32% em 2022 para 28,69% nestas eleições.
No distrito de Viana dos Castelo, a AD ganhou as eleições com uma percentagem de 34,72 tendo eleito 2 deputados. Viana do Castelo perdeu um deputado face a 2022, o que prejudicou a AD que elegeu 2 deputados, o PS passou de 3 para 2 deputados e o Chega elegeu um deputado.
Portugal vive uma situação de descontentamento generalizado, de desconfiança política, de instabilidade em todos os sectores, nomeadamente, nos professores, profissionais de saúde, polícias e militares e funcionários judiciais. Acresce que há atrasos enormes na execução do Plano de Recuperação e Resiliência e no Portugal 2030. A herança que a AD recebe não é positiva. Mas estou certo que Luís Montenegro vai cumprir. A sua governação trará confiança, segurança, esperança e futuro.

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“Luís Montenegro: Confiança e...”

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14.03.2024

As eleições legislativas, realizadas no domingo passado, deram a Portugal um novo ciclo político liderado por Luís Montenegro. É ele o grande vencedor das eleições, será ele o Primeiro-Ministro. Na campanha e nos debates, Luís Montenegro demonstrou competência, preparação e serenidade. A vitória é clara, ainda que tenha sido obtida por uma pequena margem. Há que notar que à direita da Aliança Democrática, o Chega e a Iniciativa Liberal (IL) tiveram mais de 23% dos votos, o que valoriza os 29,5% da AD.
A tarefa será difícil e o trabalho será árduo, uma vez que a Aliança Democrática não terá a possibilidade de formar um governo apoiado por uma maioria na Assembleia da República.
É evidente que Luís Montenegro terá de dialogar e negociar com os grupos políticos que estão na Assembleia da República. Exige-se abertura, sensatez e responsabilidade por parte de todos os partidos mas, sobretudo, ao Partido Socialista. O tempo dirá se Pedro Nuno Santos se comporta com um moderado ou como um radical. Veremos se defenderá, em primeiro lugar, o interesse nacional e só depois o interesse partidário.
A esquerda tradicional é a grande derrotada. Pedro Nuno Santos, líder do PS, perdeu cerca de 500 mil votos face às eleições de 2022. O Bloco de Esquerda manteve o mesmo número de deputados (5), o PCP/PEV passou de 6 para 4 deputados, e o PAN manteve a sua líder........

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