Achamada “Terra Santa”, no Médio Oriente, corresponde aos territórios do moderno Estado de Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza e algumas regiões na Jordânia, especialmente áreas próximas ao rio Jordão.
Ela é considerada como tal, santa, devido à importância histórica que tem para várias religiões. Para o judaísmo é o local da antiga Terra de Israel, que desempenhou um papel central na história do povo judeu, incluindo a construção do Templo de Jerusalém e a preservação de textos sagrados como a Torá. Para o cristianismo é o lugar onde muitos eventos significativos na vida de Jesus ocorreram, como o nascimento em Belém, a pregação na Galileia e a crucificação e ressurreição em Jerusalém. Para o islamismo é importante porque Jerusalém abriga a Mesquita de Al-Aqsa, que é considerada o terceiro local mais sagrado no Islão, depois de Meca e Medina. Além disso, Jerusalém é tradicionalmente vista como o local de onde o Profeta Maomé subiu ao céu durante a Noite da Ascensão.

Não seria possível criar no seu espaço – de Éilat, a cidade israelita mais a sul, no Mar Vermelho, perto da Jordânia e do Egito, até Metula, a cidade judaica mais a norte, próximo da fronteira com o Líbano – um Estado laico multiconfessional, plurilinguístico, no qual palestinos (maioritariamente muçulmanos, especialmente do ramo sunita do islamismo, mas também com comunidades cristãs, falantes do árabe) e israelitas (sobretudo judeus, falantes do hebraico) pudessem coexistir pacificamente? Um só Estado que, quiçá, poderia ter Jerusalém como sede do poder político (presidência, governo, parlamento) e Belém ou Hebron do administrativo. É que, afinal de contas, se conseguimos edificar e fazer funcionar uma União Europeia de 27 estados, com tantas diferenças, quão difícil será conseguir isto?

Neste momento que pressentimos excecionalmente ameaçador, não apenas para a subsistência das nações do Médio Oriente, mas do mundo, talvez devamos pensar em forçar o anjo da História benjaminiano a voltar o seu olhar para o futuro ou, se for caso disso, cegá-lo temporariamente. A visão trágica e desencantada da história em que estamos mergulhados, de que não podemos intervir para consertar o que está quebrado ou restaurar o passado e que nos resta sermos testemunhas de uma sucessão inexorável de eventos, impotentes para fazermos qualquer coisa e impedirmos o desenrolar dos acontecimentos. Ou o Médio Oriente entra em amnésia (terapêutica) ou perecerá, correndo o risco de arrastar o resto do mundo.

Um coro de vozes se tem formado para clamar pela formação de um só Estado. O conhecido académico palestino Edward Said, por exemplo, afirmou numa peça que escreveu para o The New York Times (10/01/1999): «A questão, creio, não é como descortinar meios para persistir na tentativa de separá-los [israelitas e palestinos], mas ver se é possível para eles viverem juntos da forma mais justa e pacífica possível». Partilhando essa mesma visão temos a cientista política estadunidense Virginia Tilley que a elaborou em The One-State Solution (2005) e o jornalista americano de origem palestina Ali Abunimah que a explorou em One Country: A Bold Proposal to End the Israeli-Palestinian Conflict (2007). Também o historiador israelita Ilan Pappé e o analista político palestino (com cidadania israelita) Awad Abdelfattah, em entre- vista conjunta dada ao Memo: Middle East Monitor (7/1/2021) concordaram que deve haver um empenho das duas partes para combater a “maldição dos dois Estados” e que “um Estado democrático na Palestina/Israel é não só justo como possível”.

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“Isralestina/Palestinrael”

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09.12.2023

Achamada “Terra Santa”, no Médio Oriente, corresponde aos territórios do moderno Estado de Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza e algumas regiões na Jordânia, especialmente áreas próximas ao rio Jordão.
Ela é considerada como tal, santa, devido à importância histórica que tem para várias religiões. Para o judaísmo é o local da antiga Terra de Israel, que desempenhou um papel central na história do povo judeu, incluindo a construção do Templo de Jerusalém e a preservação de textos sagrados como a Torá. Para o cristianismo é o lugar onde muitos eventos significativos na vida de Jesus ocorreram, como o nascimento em Belém, a pregação na Galileia e a crucificação e ressurreição em Jerusalém. Para o islamismo é importante porque Jerusalém abriga a Mesquita de Al-Aqsa, que é considerada o terceiro local mais sagrado no Islão, depois de Meca e Medina. Além disso, Jerusalém é tradicionalmente vista como o local de onde o Profeta Maomé subiu ao........

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