A gestão de recursos humanos é o grande desafio das empresas e dos empregadores no futuro. Tal desafio é especialmente significativo à medida que se aumenta o grau de qualificação dos profissionais procurados.
Constato o quão artigos e notícias, sobretudo integrados em revistas especializadas, dão cada vez mais vezes conta das dificuldades de contratar trabalhadores. “Mais de 80% das empresas alertam que contratar trabalhadores adequados requer cada vez mais tempo. Mais de metade das empresas já antevê que preencher vagas será mais difícil no futuro próximo. Escassez de talento prejudica produtividade e competitividade”, referem empregadores. Este retrato é feito pela Randstad no estudo “Tendências de recursos humanos 2023-2024”, veiculado por inúmeras plataformas noticiosas.
Tanto é assim que, não obstante a desaceleração económica e a incerteza global sobre algumas variáveis económicas e sociais, fruto em grande medida da instabilidade que o mundo vive, a previsão global é de estabilização no emprego. Ou seja, as contrariedades económicas não vão afetar o emprego, uma vez que é cada vez mais escassa a oferta de mão de obra.

O que me deixa desde logo admirado quando o que os empregadores constatam é que a mão de obra especializada é ainda mais difícil de encontrar. Numa época em que tantos cursos superiores e universidades proliferam no país, numa altura em que é permitido a tantos jovens estudarem e terminarem os seus cursos, como explicar aquela conclusão dos empresários.
Já sabemos que os baixos salários poderão estar por detrás destas dificuldades tão significativas na procura de trabalhadores. Ora, no passado, essa já era uma matriz a que todos estavam habituados quando acabavam os seus cursos, contudo o “animus”, a vontade e a ambição eram desmesuradamente maiores do que atualmente constatamos; todos lutavam por vencer, por mostrar que traziam um “plus”, certos de que no futuro a progressão salarial ocorreria.
Hoje, não, hoje as camadas mais jovens querem adiar ao máximo a entrada no mercado de trabalho. Ou não a querem, de todo.

Sem prejuízo de assistirmos a um síndrome de “preguiça geracional”: toda uma massa jovem que prefere a mesada permanente dos pais para uns copos, para continuar de troley na mão a viajar “low cost” e a colecionar destinos, desinteressada por construir um futuro de independência, e para a qual não existem objetivos que outrora estavam nos cromossomas dos seus antecessores (vg comprar habitação), e independentemente das causas dessa letargia coletiva (o elevado protecionismos dos papás a isso não será totalmente alheio!), a culpa reside desde logo nas universidades. Os corpos docentes das universidades, cada vez mais jovens, são também cada vez menos exigentes. Ainda, a maior parte dos estabelecimentos de ensino superior atua à margem das empresas e do realidade do mercado de trabalho e suas necessidades, os professores dedicam-se apenas à academia e a construções e querelas teóricas sem qualquer interesse prático, o que provoca nos estudantes uma repulsa por um ambiente que mais não é do que a continuação dos estudos liceais, porventura estes últimos terão sido mais exigentes.
Essa repulsa origina um desinteresse por tudo o que se segue, mormente a entrada no mercado de trabalho.

Os empresários procuram inverter a todo o custo essa tendência e cada vez mais assistimos ao colocar em prática de políticas de gestão de recursos humanas assentes em flexibilidade (a mais popular, sem dúvida, o teletrabalho, algo que veio para ficar após a pandemia e que os mais jovens apreciam).
Nada acontece por acaso: a transformação digital e a inovação tecnológica intensificam-se e vão marcar (e muito) o futuro do mercado de trabalho. A inteli- gência artificial aparece como necessidade e uma oportunidade para as empresas e profissionais, já que vai transformar tarefas e processos. E irá substituir pessoas, aquelas que hoje não querem trabalhar. Irá eliminar emprego? Pois jugo que sim, mas haverá sempre espaço para aqueles que se adaptem a esta realidade movidos pela vontade maior de trabalharem e criarem. Para os demais restará o ócio, um estado social cada vez mais depauperado e que um dia não terá bolsos para mais subsídios. Parece uma visão apocalíptica? Parece. Irrealista? Talvez não.

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“Inteligência artificial,...”

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27.11.2023

A gestão de recursos humanos é o grande desafio das empresas e dos empregadores no futuro. Tal desafio é especialmente significativo à medida que se aumenta o grau de qualificação dos profissionais procurados.
Constato o quão artigos e notícias, sobretudo integrados em revistas especializadas, dão cada vez mais vezes conta das dificuldades de contratar trabalhadores. “Mais de 80% das empresas alertam que contratar trabalhadores adequados requer cada vez mais tempo. Mais de metade das empresas já antevê que preencher vagas será mais difícil no futuro próximo. Escassez de talento prejudica produtividade e competitividade”, referem empregadores. Este retrato é feito pela Randstad no estudo “Tendências de recursos humanos 2023-2024”, veiculado por inúmeras plataformas noticiosas.
Tanto é assim que, não obstante a desaceleração económica e a incerteza global sobre algumas variáveis económicas e sociais, fruto em grande medida da instabilidade que o mundo vive, a previsão global é de estabilização no emprego. Ou seja, as contrariedades económicas não vão afetar o emprego, uma vez que é cada vez mais escassa a oferta de........

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