Herman José, um nome que dispensa quaisquer apresentações, completa no corrente ano 50 anos de carreira artística. Humorista, cantor, compositor, ator, apresentador e entrevistador, enfim, tantas as áreas em que se fusiona o seu enorme talento e em que se notabilizou e nas quais deixou a sua inesquecível marca.
Haverá muitos outros artistas dignos deste registo, mas não haverá mais nenhum que tenha influenciado um elevado número de gerações, naquilo que de mais pessoal e personalístico existe no indivíduo, como o Herman. Eu incluo-me no grupo daqueles que, nas décadas de 80-90, viveram a adolescência a rir (muito) com o Herman e a replicar as suas personagens, clichés, gestos ou expressões. Quem não se lembra de slogans associados a emblemáticos bonecos por si criados e que toda a sociedade freneticamente repetia, tais como “o verdadeiro artista” (Serafim Saudade), o “ó p´ra mim” (Maximiana) ou o “eu é mais bolos” (José severino), o “goodbye Maria Ivone (A Roda da sorte) ou ainda o “não havia necessidade” (Diácono Remédios) e o “Resmas de gajas” (Nelo)?

Programas como “O Tal Canal” (1983), “Hermanias” (1984), “Humor de Perdição” (1988), todos da sua autoria - dos quais brotaram sketches e personagens inesquecíveis como a Marilu, a Jaquiná, o Serafim Saudade, o Estebes, a Maximiana, entre muitos outros -, constituíram um bálsamo refrescante de humor para todos, mas de igual forma mexeram com consciências, mentes, padrões sociais e morais de toda uma sociedade que acabara de sair dos tempos de obscuridade e repressão da ditadura. Afinal o 25 de abril ocorrera poucos anos antes.

Na entrevista à Lusa, em outubro do ano transato, Herman José recordou que, com “O Tal Canal” foi a primeira vez "que alguém (em Portugal) escreveu um programa para si próprio". Além disso, foi feito "com uma honestidade e uma pureza e uma quase infantilidade, que marcaram a diferença". Não posso estar mais de acordo. Essa simplicidade, gerida sempre com elevada mestria, atingiu, como uma flecha, a atenção dos portugueses, de todas as idades, abriu consciências e rompeu barreiras; no humor passaram a caber outras variáveis e para trás ficou o que era “certinho” ou “politicamente correto”. Um país que ficou mais alegre, mais motivado, mais positivamente atrevido, mais consciente da liberdade de expressão, mais contemporâneo.
As instituições têm assinalado a efeméride. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou Herman, pelos 50 anos de carreira, com o grau de grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Por sua vez, no passado dia 19 de março, António Costa, num dos últimos atos que praticou enquanto governante, atribuiu a Herman, e no dia do 70. Aniversário deste, a Medalha de Mérito Cultural, considerando-o um "humorista incondicionalmente comprometido com a liberdade" e cujos programas permitiram que a democracia saísse "da televisão a preto e branco" e ganhasse cor. Nas suas palavras, "não será por acaso" que se celebra os 50 anos de carreira do humorista na mesma altura em que também a democracia portuguesa comemora o mesmo meio século de vida.

Herman revolucionou o humor em Portugal e foi uma fábrica e cluster de atores de comédia (Ana Bola, Maria Rueff, Joaquim Monchique), influenciando as novas gerações de humoristas, nos quais se incluem nomes como Ricardo Araújo Pereira, Nuno Markl, António Raminhos, César Mourão, Bruno Nogueira ou Joana Marques.
E Herman continua a reinventar-se. Quem, tal como eu, segue o Herman nas redes sociais, pode testemunhar que o Rei está cada vez melhor. O seu poder criativo é infindável e são muitos os vídeos com que nos presenteia com momentos de pura diversão e muito riso. Posso afiançar-vos que não passa um dia sem eu soltar uma boa gargalhada com as suas publicações, seja com a maravilhosa e “estrepitosa” sua mãe, Maria Odette, seja com as frenéticas e worldwide danças que parecem ter sido coreografadas ao som do seu recente hit, “Sopa da Pedra”.

O humor faz-nos melhores pessoas e melhores profissionais. Parte do que eu sou, não tenho quaisquer dúvidas em afirmá-lo, devo-o à influência e à importância que o Herman teve no meu crescimento e na minha pessoa. Obrigado, Herman. Obrigado por tudo o que me deu, obrigado por tudo o que deu a todos nós. Esse contributo vai muito para além da genialidade do artista. Ah, e que continue a animar as nossas vidas, com “imensa paprika” e numa enorme “caturreira”.

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“50 anos de Herman”

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15.04.2024

Herman José, um nome que dispensa quaisquer apresentações, completa no corrente ano 50 anos de carreira artística. Humorista, cantor, compositor, ator, apresentador e entrevistador, enfim, tantas as áreas em que se fusiona o seu enorme talento e em que se notabilizou e nas quais deixou a sua inesquecível marca.
Haverá muitos outros artistas dignos deste registo, mas não haverá mais nenhum que tenha influenciado um elevado número de gerações, naquilo que de mais pessoal e personalístico existe no indivíduo, como o Herman. Eu incluo-me no grupo daqueles que, nas décadas de 80-90, viveram a adolescência a rir (muito) com o Herman e a replicar as suas personagens, clichés, gestos ou expressões. Quem não se lembra de slogans associados a emblemáticos bonecos por si criados e que toda a sociedade freneticamente repetia, tais como “o verdadeiro artista” (Serafim Saudade), o “ó p´ra mim” (Maximiana) ou o “eu é mais bolos” (José severino), o “goodbye Maria Ivone (A Roda da sorte) ou ainda o “não havia necessidade” (Diácono Remédios) e o “Resmas de gajas” (Nelo)?

Programas como “O Tal Canal” (1983), “Hermanias” (1984), “Humor de Perdição”........

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