menu_open
Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Crônica do império em declínio

4 0
27.07.2024

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Para Charles Pessanha, in memoria
“Na história dos EUA, democratas e republicanos cerraram fileiras para defender o imperialismo” - Claudia de la Cruz, candidata socialista à presidência dos EUA

A comédia do presidencialismo nos EUA transita do quase burlesco, como o debate do 27 de junho, à tragédia do último 13 de julho. Consumado com êxito, o atentado, ainda que lamentável, seria, apenas, mais um homicídio político, curial naquele país, como o que antes abateu o senador democrata Robert Kennedy, igualmente em campanha pela Casa Branca. A violência política não tem caráter.

Desta feita, a competência que não faltou a Lee Oswald fugiu da mira do jovem Thomas Matthew Crooks, livrando a história estadunidense de mais um trauma, algo que se dirá natural, ou lógico, em sociedade e nação construídas e sustentadas pela violência interna, que leva para fora de seus limites sua essência constitutiva: a violência larvar, a violência do dia a dia e a violência estritamente política; a violência social, a violência interpessoal e intergrupos. A violência racial e a violência nas relações com outros povos, a partir da autoconvicção paranoide de sua superioridade, e de seu dever, derivado dessa alucinação, de impor-se a todo o mundo como matriz, assim como a fé era levada aos ímpios pelas espadas sagradas dos cruzados: a ferro e fogo.

Consideremos um recorte de suas disputas políticas: quatro presidentes assassinados (Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John Kennedy); dois presidentes vítimas de atentados (Ronald Reagan e Theodore Roosevelt, este antes de tomar posse); um candidato à presidência assassinado (Robert Kennedy) e, dentre as muitas personalidades abatidas a tiros, Martin Luther King e Malcolm X. Nesta lista se insere, agora, Donald Trump, sobrevivente como Reagan, seu colega de partido e irmão no reacionarismo.

Enquanto Biden, em cena aberta, se reconhecia como ator sem enredo e sem “ponto”, o oponente se consagrava no papel de grande bufão. Nos gestos, nas falas, nas propostas, como na truculência. Nessa arte ele é imbatível. O aparentemente inexplicado é que o candidato dos ricos expressa a alma perena do americano comum, assustado com a decadência do país, que lhe haviam ensinado na escola, no serviço militar e na igreja haver sido escolhido por Deus para ser uma nova Canaã: a maior, a mais rica e poderosa nação do mundo. Por isso Trump é um candidato perigoso, como perigoso se revelou o vice que tirou do colete, para quem a essência da alma americana está em um fuzil. Aqui, gente também desprezível diz o mesmo, com igual desenvoltura e igual sucesso, inclusive nos palcos das corporações neopentecostais.

Apesar de tudo, não há nada de novo no front, pois quase nada muda naquele país, qualquer que seja o partido no governo. Persiste a política de expansão imperialista, motivada pela própria formação histórica, mas alimentada pelo complexo industrial-militar, que precisa de guerra para sobreviver.

A diferença entre o Partido Republicano e o Democrata é a que se identifica entre irmãos siameses. O mesmo se aplica a seus líderes na Casa Branca. Foi o democrata Harry Truman que em 1945 lançou duas bombas atômicas sobre a população civil de um Japão já derrotado; foi ele ainda quem criou a chamada Guerra da Coreia (um morticínio ainda muito pouco comentado), enquanto o republicano Dwight Eisenhower negociou o dúbio armistício. Foi o democrata Lyndon B. Johnson........

© Brasil 247


Get it on Google Play