Onde só existia o homem e a bola. Ou a mulher e a bola.

Esta sexta-feira, dia 8 de março, assinalou-se mais um Dia da Mulher. Assim mesmo, assinalado, não comemorado. Enquanto no Mundo continuar a existir quem não apenas limita, mas oprime a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, quem discrimina as mulheres e legaliza até essa discriminação aos seus direitos, estaremos sempre mais perto do ponto de partida do que do da chegada. E assinalar o Dia da Mulher continuará, infelizmente, a fazer muito sentido homenagear.

Mas o caminho está a ser percorrido. No Desporto também. Em Portugal também.

Rosa Mota, Aurora Cunha, Fernanda Ribeiro, Ana Cabecinha, Carla Sacramento, Manuela Machado, Susana Feitor, Inês Henriques, Jéssica Augusto, Elisabete Jacinto, Telma Monteiro, Teresa Portela ou Patrícia Mamona são já muitos e poucos os exemplos de mulheres portuguesas que alcançaram sucesso no desporto.

Pedradas no charco que colocaram o País a aplaudir mas não ainda suficientemente desperto para os sacrifícios que as mulheres têm de fazer e os obstáculos que têm de ultrapassar para cumprir sonhos. Elas enfrentam os mesmos desafios que os homens e mais alguns. Como ser mãe, por exemplo. O que deveria ser um privilégio adorado e a proteger a todo o custo pelas sociedades torna-se um problema e muitas vezes injusta (e discriminatória) questão de escolha entre maternidade e carreira.

Mas são vários os sinais positivos e no desporto muito contribuem as conquistas dos desportos coletivos e aquele que todos puxa: o futebol.

Nos últimos anos, reconhecido pela FIFA e constatado também em Portugal, pelos números compilados pela Federação Portuguesa de Futebol, o futebol feminino foi a modalidade que mais cresceu a uma escala global. Claro que não se trata apenas de resultado da abertura de espírito, não sejamos tão otimistas. O futebol feminino cresce também e talvez sobretudo à boleia do clubismo, da aposta que os grandes clubes dos principais países nele estão a fazer. Mas isso importa? Não é, na verdade, exatamente o mesmo fenómeno na origem do crescimento e que alimenta o futebol masculino?

Os sonhos na cabeça de uma desportista são exatamente iguais aos que se formam na cabeça de um desportista: a mesma paixão, a dedicação, a competitividade, a mesma vontade de superação. Não há aqui género.

Por falar em paixão e em futebol. Morreu Minervino Pietra. A antiga glória do Benfica e do futebol português, figura discreta, mas sempre presente das últimas décadas, saiu de campo. Vai fazer muita falta, ficam as memórias que ajudou a construir. Despediu-se mais um grande senhor e mais uma ligação ao futebol romântico, onde só existia o homem e a bola. Ou a mulher e a bola. Aqui, nestes 90 minutos, o género não importa.

7 março 2024, 23:50

Antiga glória das águias dedicou mais de metade da sua vida aos encarnados, como jogador, analista e, mais tarde, como treinador residente de várias equipas técnicas do plantel profissional de futebol

QOSHE - Nestes 90 minutos - Nélson Feiteirona
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Nestes 90 minutos

19 0
09.03.2024

Onde só existia o homem e a bola. Ou a mulher e a bola.

Esta sexta-feira, dia 8 de março, assinalou-se mais um Dia da Mulher. Assim mesmo, assinalado, não comemorado. Enquanto no Mundo continuar a existir quem não apenas limita, mas oprime a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, quem discrimina as mulheres e legaliza até essa discriminação aos seus direitos, estaremos sempre mais perto do ponto de partida do que do da chegada. E assinalar o Dia da Mulher continuará, infelizmente, a fazer muito sentido homenagear.

Mas o caminho está a ser percorrido. No Desporto também. Em Portugal também.

Rosa Mota, Aurora Cunha, Fernanda Ribeiro, Ana Cabecinha, Carla Sacramento, Manuela Machado, Susana Feitor, Inês Henriques, Jéssica........

© A Bola


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