O fim de semana trouxe de novo demasiado ruído ao nosso futebol

Portugal precisa do Dérbi. Precisa que a rivalidade que se vai exprimir em campo nesta semana seja jogada com maiúsculas. Um dérbi nunca será meramente um jogo. É algo tão especial que consegue dividir uma comunidade a meio e, ao mesmo tempo, dar-lhe uma sensação de se partilhar algo único. Parece um paradoxo, mas não é. Os sportinguistas podem não gostar do Benfica, mas adoram o dérbi. Os benfiquistas podem não gostar do Sporting, mas adoram o jogo que divide Lisboa e ecoa pelo país. O dérbi é história, orgulho, identidade. É preciso que seja também respeito.

O fim de semana trouxe de novo demasiado ruído ao nosso futebol. Desde a Liga 2 ao campeonato principal, desde jogadores, árbitros, treinadores e dirigentes. Os primeiros porque alguns se esquecem de competir e só pensam vencer seja como for, nem que para isso finjam; os segundos porque andam entre alguma prepotência e as más decisões e poucos são os que os ajudam; os terceiros porque se refugiam na classe anterior para explicar insucessos e os quartos e últimos porque, enfim, já não têm remédio.

Mas o Dérbi, esse escrito com maiúsculas porque engloba não só um jogo, mas a rivalidade de Benfica e Sporting, causa uma oportunidade única para o futebol português. São dois jogos. Haverá nervosismo, paixão, momentos controversos seguramente, numa luta pelo domínio do futebol na capital e até no país. Mas se o dérbi é isso tudo, ele deverá ser também respeito e reconhecimento pelo adversário. No fundo, que Benfica e Sporting partam para os dois jogos com a pureza de uma rivalidade futebolística: simplesmente ver quem é melhor a jogar essa coisa do futebol. Sem truques, sem lamentos absurdos ou visões enviesadas. Sem violência, acima de tudo.

O Dérbi de Lisboa é o jogo mais especial do país - a par dos clássicos com o FC Porto, que são bons e intensos, mas um duelo que já se repetiu 320 vezes e no qual só houve 16 empates a zero tem de ter qualquer coisa de transcendente – e, como tal, cartão de visita a quem chega, a quem é de fora ou é de cá e simplesmente neutro.

A semana vai ser de alta tensão, mas que seja de grandes homens também, como naquele maio de 1983, em que o capitão do Sporting, Manuel Fernandes, deu os parabéns ao capitão do Benfica, Humberto Coelho, pela grande época, conquista do campeonato e campanha na Taça UEFA; e em que o capitão do Benfica respondeu que esperavam ser «um digno sucessor do Sporting».

Esperemos também que águias e leões de 2023/24 sejam dignas representações daqueles capitães, uma responsabilidade que não passa apenas pelo campo, mas pela globalidade das estruturas de Benfica e Sporting e de como vão abordar a semana.

Digam-nos, então, que Dérbi gostam de ter, caros rivais, com a certeza de que, para quem perde, o sol também nascerá de novo.

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Benfica-Sporting: simplesmente, competir

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01.04.2024

O fim de semana trouxe de novo demasiado ruído ao nosso futebol

Portugal precisa do Dérbi. Precisa que a rivalidade que se vai exprimir em campo nesta semana seja jogada com maiúsculas. Um dérbi nunca será meramente um jogo. É algo tão especial que consegue dividir uma comunidade a meio e, ao mesmo tempo, dar-lhe uma sensação de se partilhar algo único. Parece um paradoxo, mas não é. Os sportinguistas podem não gostar do Benfica, mas adoram o dérbi. Os benfiquistas podem não gostar do Sporting, mas adoram o jogo que divide Lisboa e ecoa pelo país. O dérbi é história, orgulho, identidade. É preciso que seja também respeito.

O fim de semana trouxe de novo demasiado ruído ao nosso futebol. Desde a Liga........

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