JAM Sessions, por João Almeida Moreira

Este texto não vai falar do Brasileirão que hoje se inicia, até porque já há páginas dedicadas ao tema nesta edição, mas dos estaduais, que na semana passada terminaram. São eles, os estaduais, que impedem que ele, o Brasileirão, seja um sucesso desportivo e comercial.

Com 11 grandes, alguns com 30 ou 40 milhões de adeptos, e um punhado de potências regionais quase grandes, rivalidades centenárias, público apaixonado, jogadores talentosos ao pontapé e a segunda maior emissora de TV do mundo a dedicar-lhe todos os meios, o Brasileirão devia estar para o futebol como a NBA está para o basquetebol. Não está por razões económicas, sociais e geográficas que transcendem o jogo mas também por culpa própria— por culpa dos estaduais que a CBF insiste em alimentar.

É por causa dos estaduais que este ano, por exemplo, sete jornadas serão disputadas enquanto decorre a Copa América, que deve desviar uns 30 jogadores do Brasileirão.

E é por causa dos estaduais que as pré-temporadas, que na Europa são de mês e meio fora as férias, se resumem a uma semana (esta que passou), os treinadores, sem tempo para trabalhar, acabam despedidos às pazadas e os jogadores, sem descanso entre jornadas, acabam lesionados às pazadas.

E porque não se acaba com os estaduais? Os argumentos de mentira da CBF são «porque o país é grande», uma conclusão velha a que os cartógrafos portugueses chegaram há cinco séculos, e por causa da tradição, eufemismo para decadência, porque também é mais tradicional enviar uma carta pelo correio comum do que pelo correio eletrónico mas, garanto ao caro leitor, este texto que lê foi enviado por e-mail ao editor para melhor satisfação de todas as partes.

Não: a razão verdadeira é a pressão das federações estaduais, cujos presidentes são também quem elege (ou derruba) a direção da CBF.

Tudo bem, sejamos sensíveis aos argumentos da dimensão do país, da tradição e até da pressão e mantenhamos os estaduais — mas, porque não, então, ao longo de todo o ano, paralelos às provas nacionais, uma vez que muitos atletas de clubes pequeninos se queixam hoje de, terminado o estadual, passarem seis meses desempregados?

Como só há divisões nacionais até à Série D, dividida em oito grupos regionais, seria a Série E (de Estadual, calha bem), com os clubes sem lugar nos quatro primeiros níveis a participarem ao lado, para manter o interesse mediático, dos gigantes de cada estado com equipas misturando titulares e jovens sem espaço nos convocados.

Assim, sem apertos, por nove meses, como as principais ligas europeias, e não entalado em seis, decorreria, com mais sucesso desportivo e comercial, o tal Brasileirão que hoje começa.

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Porque não fazem a Série E?

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13.04.2024

JAM Sessions, por João Almeida Moreira

Este texto não vai falar do Brasileirão que hoje se inicia, até porque já há páginas dedicadas ao tema nesta edição, mas dos estaduais, que na semana passada terminaram. São eles, os estaduais, que impedem que ele, o Brasileirão, seja um sucesso desportivo e comercial.

Com 11 grandes, alguns com 30 ou 40 milhões de adeptos, e um punhado de potências regionais quase grandes, rivalidades centenárias, público apaixonado, jogadores talentosos ao pontapé e a segunda maior emissora de TV do mundo a dedicar-lhe todos os meios, o Brasileirão devia estar para o futebol como a NBA está para o basquetebol.........

© A Bola


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