Alcoolismo mata sobretudo porque é difícil aceitar a verdade: 'Estou doente'
Você lembra do que você fez ontem? Quem nunca teve problema com o álcool muito provavelmente não fica arrepiado quando escuta essa pergunta. No começo da minha carreira etílica, quando ainda bebia de vez em quando, mas sempre exageradamente, a frase vinha junto com uma risada e a pessoa me contava o que eu tinha aprontado no dia anterior. Os primeiros vexames soavam engraçados, até animavam a festa. Eu era uma moleca fanfarrona, "muito divertida", me diziam.
Mas com o passar dos anos, esse esquecimento das coisas foi ficando recorrente. No dia seguinte à bebedeira, já não me olhavam com bons olhos. Mesmo porque na maioria das vezes eu fazia coisas completamente sem noção, ficava totalmente inadequada. Me transformava em uma mulher com desejos e comportamentos animalescos. E quando acordava não tinha a menor ideia do que havia acontecido. Para mim era humilhante saber pelos outros o que eu mesma tinha feito e, para os outros, acredito, era muito difícil distinguir as duas Alices. Principalmente acreditar que eram duas.
Então eu e a minha versão bêbada começamos a nos fundir. Começou a ficar cada vez mais difícil as pessoas gostarem da Alice diurna porque a versão noturna prevalecia. Os estragos foram ficando maiores. Com muito álcool na cabeça eu era capaz de xingar, trair, machucar as pessoas que mais amava. Como escrevi em outra coluna, se em uma bebedeira feroz me dissessem que a vida da minha mãe dependesse da minha........
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