A morte nas letras de Gilberto Gil
Nasci em 1984.
Em 1984, o carnaval do Rio de Janeiro acontecia pela primeira vez na Marquês de Sapucaí. As "Diretas Já" faziam seus principais movimentos, Senna estreava na Fórmula 1 e a banda brasileira mais famosa do mundo, Sepultura, estreava nos palcos.
Também em 1984, Gilberto Gil lançava o álbum Raça Humana. É dele uma de suas músicas mais conhecidas, "Tempo Rei".
"Tempo Rei" é sua versão para o que, na canção "Oração ao Tempo", de Caetano Veloso, está descortinado na frase "E quando eu tiver saído... para fora do teu círculo... não serei nem terás sido". Gil conta que "na música de Caetano parece haver um niilismo essencial, um mergulho no nada absoluto e uma resignação plena, orgulhosa e altiva com a extinção. Na minha tem uma coisa mais cristã: uma, quem sabe, quimera: um vago desejo de permanência e de transformação".
"Tempo Rei" é uma música sobre a morte, assim como várias outras letras escritas por Gilberto Gil. Acho que ainda não tinha me dado conta disso até buscar referências em sua música para fazer uma dedicatória para ele em um livro que escrevi.
Resolvi ouvir as canções enquanto pensava no que dizer. "Não me iludo/ Tudo permanecerá do jeito/ Que tem sido", canta Gil. Pensei logo em Santo Agostinho e em seu "A morte não é nada": "Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo". Uma forma de dizer que a morte não nos extingue, ao menos não enquanto existir uma única pessoa que se lembre de quem tivermos sido.
Por outro lado, Gilberto Gil também nos lembra que "Pensamento/ Mesmo o fundamento singular do ser humano/ De um momento para o outro/ Poderá não mais fundar nem gregos, nem baianos". E alerta para que não nos iludamos, porque tudo agora mesmo pode estar por um segundo.........
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