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'João de Deus': cinco anos da denúncia que abalou o país

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19.12.2023

Eu só fui entender quem era o famoso médium brasileiro João Teixeira de Farias, proclamado João de Deus, quando ele se tornou um perseguido da polícia.

Até então era, para mim, um nome como tantos outros sobre os quais ouvimos falar e, a depender dos nossos interesses, sabemos mais ou menos.

Quando comecei a assistir a série documental da Globoplay "Em nome de Deus", logo no início da pandemia, levei um susto. Aquele homem era internacionalmente conhecido e tinha acesso aos mais variados espaços de poder no país. O chamado médium já tinha recebido elogios de Xuxa à Oprah Winfrey. Como tudo aquilo podia ter ficado escondido tanto tempo?

Três anos depois de "Em nome de Deus", a Globoplay disponibilizou a minissérie ficcional "João sem Deus: a queda de Abadiânia", série original do Canal Brasil, com atuações impressionantes dos protagonistas Marco Nanini como João, Bianca Comparato e Karine Teles. Criada por Patricia Corso, Leonardo Moreira e Giuliano Cedroni, "João sem Deus" acaba de ser indicada ao Premios Platino, que premia as melhores obras cinematográficas ibero-americanas do ano.

A concretude daquelas pessoas, mesmo que em personagens ficcionais, fez com que eu me conectasse melhor com a cegueira que o desespero pode promover. O desespero é um chamariz muito poderoso para mal-intencionados, especialmente quando envolvem a fé.

Camila Appel, fundadora do Morte sem Tabu e roteirista da série "Em nome Deus", é também a responsável pelas primeiras denúncias de abusos sexuais contra João Teixeira de Farias, em 2018. A minissérie "João sem Deus" a cita com o nome de "Carla" na ficção, embora transmita imagens reais em que Pedro Bial informa que ele e Camila Appel fizeram a apuração que levou à queda do médium.

"A moça não ia vir aqui fazer a reportagem?", pergunta para Carla o braço-direito de João de Deus logo nos primeiros minutos do primeiro de três episódios da minissérie "João sem Deus". Pouco antes das primeiras denúncias, a equipe do programa "Conversa com Bial" realmente se preparava para uma entrevista com João de Deus em Abadiânia.

Camila conta que a ida dos colegas para Abadiânia estava acertada. Já estavam até anotando os tamanhos das pessoas que participariam para providenciar as roupas brancas exigidas para entrar na Casa Dom Inácio de Loyola, local em que João realizava os atendimentos. "Eu não estava diretamente envolvida nessa matéria, mas resolvi perguntar a uma amiga que tinha morado em Abadiânia sobre o João. Ela me surpreendeu dizendo que conhecia mulheres que diziam ter sido abusadas por ele. Uma delas topou conversar comigo, anonimamente. Ela tinha escrito um diário 20 antes contando detalhes do abuso horrível que havia sofrido. A segunda pessoa que aceitou a conversa dizia ter sido abusada ainda naquele ano".

Ela percebia um padrão de........

© UOL


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