São nos menores frascos que estão as maiores lembranças olfativas
Se eu pudesse, isto aqui não seria crônica de jornal, mas uma carta perfumada passada por baixo da porta. Um lencinho que, ao cair leve e sonso, deflagrasse um quê inebriante de flerte com o que guardamos de mais delicado.
O jeito, então, é me safar com este relato forçosamente inodoro, tendo a convicção de que palavras guardam uma fragrância própria, sempre muito bem fixada por memórias. E de que vocês pegarão no ar tudo o que senti ao avistar aquele diminuto frasco por entre os pertences de Lina Bo Bardi em sua Casa de Vidro: o mesmo perfume da minha mãe.
Bastou um segundo para que nariz e cérebro se alinhassem, colocando essas duas mulheres na mesma família olfativa. Suaves traços de lírio do vale, jasmim e ylang-ylang conectando a matriarca que sonhou estudar arquitetura à minha arquiteta favorita. Emoção e imaginação borrifando a cena de uma dando aulas de matemática na rede pública, enquanto a outra projetava o Sesc Pompeia.
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