Por que opinamos sobre as mortes dos outros?
Eu estava longe de ser uma pessoa interessada em questões sobre a morte quando reparei, pela primeira vez, neste fenômeno: quando alguém anuncia a morte de uma pessoa, a curiosidade sobre a causa e as circunstâncias vem ainda antes das condolências.
Mas morreu de quê? Estava doente? Quantos anos?
Isso sempre me chamou a atenção e, embora muitas vezes eu também tenha ficado curiosa, tentava conter perguntas inconvenientes.
Já procurei algum texto que explique, tecnicamente, por que sentimos essa necessidade de conhecer as causas das mortes alheias, muitas vezes de pessoas que nem conhecemos, de quem nunca ouvimos falar em vida, mas cuja morte desperta curiosidade.
Não consegui. Mas tenho um palpite. Queremos saber do que morrem os outros para garantir que não é algo que está próximo de acontecer com a gente.
Mas estava doente? Se sim, não estou doente, não estou perto da morte.
Mas tinha quantos anos? Se é muito mais velho do que minha mãe, então ela também não está perto da morte.
Estava internado? Ufa, então a morte deu aviso prévio.
Talvez seja apenas mais uma das formas que encontramos de nos afastar da realidade e nos iludirmos sobre nosso material não infinito. No fim das contas, essa curiosidade pode ser apenas uma expressão da nossa humanidade e dos nossos medos.
Mas aí chegaram as redes sociais e a amplificação de tudo que temos de pior. Nossa curiosidade, até natural, transformou-se em suposições aleatórias sobre a vida alheia. E isso torna ainda mais difícil o luto de quem fica após a morte de uma pessoa querida, cuja morte, por algum motivo, foi exposta.
Foi o que aconteceu com a família do Carlos Pereira, operário da construção civil. No último dia 25 de abril, dia do aniversário da sua filha, Ludmyla, e do seu irmão, Jean, ele sofreu um acidente de carro na estrada para Esmeraldas, em Minas Gerais. Carlos morreu na hora.
"A imprudência no trânsito é grande".........
© UOL
visit website