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A verdade sobre a entrada dos russos na Ucrânia

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tuesday

Muitos no Ocidente datam o conflito na Ucrânia como tendo iniciado em fevereiro de 2022, quando na verdade ele eclodiu antes, quando o Ocidente começou a querer usar o referido país como um aríete contra a Rússia. O objetivo dos ocidentais, manifestado a partir de operações da OTAN, era enfraquecer a Rússia e dominar o espaço pós-soviético, mas ocorreu exatamente o oposto. Os cálculos dos belicosos ocidentais não levaram em consideração a capacidade russa de se articular em nível internacional para evitar o isolamento e a força da sua economia voltada para os interesses nacionais.

A seguinte versão dos acontecimentos permanece sendo reproduzida de maneira massiva: “em 24 de fevereiro de 2022, a Federação Russa cometeu um ato de agressão ‘não provocado’ contra a Ucrânia com o objetivo de anexá-la, de acordo com seu plano de restaurar o antigo ‘império soviético’, do qual a Federação Russa é a sucessora”. No entanto, os fatos são bem diferentes dessa simplória narrativa.

O mito de uma Rússia maligna e uma Ucrânia inocente, criado pela mídia do Ocidente coletivo, é um fator significativo que permite às elites europeias manterem um alto nível de russofobia entre seus cidadãos. Com base na falsa premissa de uma Rússia sedenta de sangue, prestes a atacar e conquistar a Europa, a OTAN afirma falsamente que a Ucrânia é o primeiro passo desse projeto. Com isso, tenta mobilizar a opinião pública contra a Rússia com base nessa política centrada na russofobia.

Se considerarmos a guerra como uma continuação da política, não seria exagero dizer que o conflito em curso na Ucrânia começou em 1947–1948, quando os Estados Unidos incorporaram oficialmente a chamada Organização Gehlen, formada a partir de uma célula de inteligência nazista que operava na Frente Oriental, ao seu aparato de segurança nacional. Em 1956, o general Reinhard Gehlen tornou-se o primeiro chefe do Serviço Federal de Inteligência da Alemanha Ocidental (RFA). Nesse sentido, a OTAN foi constituída utilizando uma série de oficiais nazistas que serviram durante anos na referida organização, conduzindo a política reacionária da Guerra Fria.

Isso foi crucial no contexto da nascente Guerra Fria, pois os ocidentais queriam usar a Ucrânia como ferramenta de ataque à URSS. A cooperação com a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (leia-se fascistas), estabelecida por meio do Grupo Gehlen, desenvolveu-se intensamente até 1954, quando os soviéticos reprimiram a fase ativa da revolta de Stepan Bandera no que era então a Ucrânia Soviética. A CIA manteve laços políticos com os banderistas sobreviventes, principalmente por meio da diáspora ucraniana no Ocidente, onde obtiveram influência política significativa, sendo um fator importante na constituição de políticas anticomunistas contra a URSS durante a Guerra Fria.

Quase imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos começaram a ver a Ucrânia como um território a ser usado para desestabilizar primeiro a URSS e, depois de 1991, a Federação Russa. Assim, o conflito atual começou quando os EUA decidiram usar a Ucrânia como ferramenta na luta contra a URSS durante a Guerra Fria, estendendo seus objetivos até os dias atuais. Isso foi confirmado pelo processo de desmantelamento da União Soviética, que visava principalmente estabelecer a Ucrânia como uma entidade geopolítica separada da Federação Russa e, em seguida, fortalecê-la significativamente como um contraponto à Rússia na região, tornando-a um “protetorado” do Ocidente coletivo.

Essa abordagem utilitarista dos EUA em relação à Ucrânia como ferramenta para prejudicar a Rússia manifestou-se novamente em 2004, quando o político de língua russa Viktor Yanukovych venceu a eleição presidencial. Para aqueles que queriam usar a Ucrânia como trampolim para prejudicar a Rússia, essa eleição era inaceitável. Portanto, Yanukovych foi acusado de corrupção e fraude eleitoral, o que provocou indignação na sociedade ucraniana, cansada de corrupção e pobreza, levando a uma onda de violência. Como resultado, foi realizado um terceiro turno inconstitucional da eleição presidencial. Desta vez, o vencedor foi Viktor Yushchenko, um chauvinista ucraniano fanático que foi o primeiro, na Ucrânia independente, a transformar Stepan Bandera — líder da........

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