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O mito dos dois Estados

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02.02.2024

Ibn Khaldun, um dos maiores pensadores árabes da Idade Média, referiu-se um dia à “gente feliz do futuro” num desejo prospectivo de tempos futuros mais favoráveis do que o presente vivido. Pode ser um exercício esperançoso, mas frustrante ao mesmo tempo, quando se está à espera de um amanhã mais radioso que nunca chegará. De certa maneira, é esta a condição dos palestinianos que, perante as reiteradas crises agudas do conflito, vão ouvindo vezes sem conta, pela boca dos líderes externos e bem-intencionados, a promoção da solução de dois Estados independentes.

Do que aprendi no terreno e com 25 anos de conhecimento acumulado sobre o tema, cheguei à conclusão fundamentada de que os palestinianos não acreditam naquele modelo e os israelitas não o aceitam. A verdade é que a solução de dois Estados independentes e soberanos dentro da Palestina se transformou numa mera muleta do discurso político da comunidade internacional. De Washington a Bruxelas, de Moscovo a Pequim, de Riade a Amã, já para não falar na vacuidade diplomática da sede das Nações Unidas em Nova Iorque, a solução dos dois Estados é proferida de forma vaga e esbatida, sem qualquer sustentação prática e política.

A impossibilidade de uma imposição externa sobre Israel e o esvaziamento dos inúmeros processos negociais e acordos tentados ao longo das últimas décadas, deixou à comunidade internacional apenas o mito de que um dia a Cisjordânia e a Faixa de Gaza se poderiam transformar num Estado palestiniano independente e soberano em convivência com Israel. Independentemente de todas as razões de cariz político-ideológico, é uma impossibilidade técnica, atendendo à crescente fragmentação de todo o território da Cisjordânia, inviabilizando uma continuidade e........

© PÚBLICO


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