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Ninguém escreve ao Almirante 

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30.11.2025

Em Ninguém Escreve ao Coronel, Gabriel García Márquez apresenta-nos um militar reformado que vive na expectativa de uma carta que nunca chega. O Coronel aguarda, mês após mês, pela prometida pensão do Estado, um reconhecimento que o país lhe deve, mas que teima em não se materializar. Vive suspenso numa promessa, alimentado por um ritual diário de dignidade, mesmo quando todos parecem já ter esquecido o seu nome.

Depois de notar, é difícil deixar de ver aqui um espelho literário do presente político português.

Também nós tivemos um militar que se tornou uma espécie de símbolo nacional. Durante a pandemia, o Almirante Gouveia e Melo assumiu o comando da operação de vacinação com uma assertividade rara, diria mesmo marmórea. Era o rosto da ordem num tempo de caos, o líder pragmático num país fragilizado, a figura pública que parecia capaz de inspirar confiança apenas pela postura. Sem que se percebesse muito como nem porquê, rapidamente chegamos a um momento em que todos acreditaram que, se avançasse para Belém, ganharia sem grande esforço.

Só que na política, tal como na literatura, nem sempre se confirmam as expectativas dos protagonistas.

As sondagens iniciais pareciam escritas pelo próprio Márquez. Em 2022, antes de qualquer ambição presidencial declarada, o Almirante já surgia com cerca de 32% nas tendências de voto. Em abril de 2025, uma sondagem da Católica para a RTP,........

© Observador