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Os mitos das presidenciais

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As eleições presidenciais prometem ser disputadas de uma forma que não se via há quarenta anos. A mudança de ciclo, a incerteza validada pelas sondagens e a iminência de uma segunda volta têm aumentado o interesse na campanha para Belém. Isto numa era super-mediatizada em que tudo se discute em todo o lado a toda a hora, do café ao Tik Tok. Da efervescência social e mediática em torno da eleição surgiram vários mitos, dos quais escolhi sete para desmontar. O exercício não tem qualquer pretensão dogmática. Até porque, como escreveu o Mário de Carvalho, quem disser o contrário é porque tem razão.

Mito 1. “Os debates são inúteis”. É uma lenga-lenga habitual a cada eleição: as queixas no espaço público e fora dele — de comentadores e cidadãos comuns — de que há debates a mais. Nestas presidenciais vão-se realizar, ao todo, 30 debates: 28 frente-a-frente nas televisões, mais dois debates a oito, um na RTP, outro nas quatro rádios de informação (Observador, Antena 1, TSF e Rádio Renascença). Tudo em sinal aberto. A solidez de uma democracia vê-se por várias fatores, mas a disponibilidade dos candidatos em debaterem tem sido, sem dúvida, uma das provas da maturidade da democracia portuguesa.

Os 11 debates até agora realizados têm sido absolutamente esclarecedores sobre o estilo de Presidente da República que cada um dos oito candidatos vai ter. É possível já ter uma primeira impressão de quem seria o mais truculento, o mais institucional, o mais experiente na gestão do dia-a-dia, o mais ou menos parecido com o atual Presidente, o mais ou menos distante do Governo ou, por exemplo, aquele ou aqueles que tentariam reforçar os poderes e reajustar a balança do semi-presidencialismo.

Dentro desta ideia da inutilidade dos debates desenvolve-se uma outra, propalada pelos meninos de coro, de que quando os candidatos se interrompem, são velhacos, apresentam agressividades de gremlin ou aplicam golpes da mais profunda desonestidade intelectual protagonizam maus debates. Parece que a retórica política mais dura faz dói-dói a quem, pelos vistos, preferia os candidatos em Santo Amaro de Oeiras a cantarolar que No Natal pela manhã/ ouvem-se os sinos tocar. O debate entre Catarina Martins e André Ventura, por exemplo, foi um bom debate a vários níveis: combativo, por um lado; esclarecedor, por outro. Talvez faltasse a voz de David Attenborough por trás para relatar a política selvagem, mas o que ali se viu foram dois animais políticos no seu estado mais natural. O cargo de Presidente da República é unipessoal e o escolhido representa o povo português,........

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