Pensamento lento
Houve um tempo, que parece agora muito distante, em que o nosso país era influenciado pela cultura, pela língua e pelo pensamento franceses. E nesse tempo de francofilia, alguns autores e filósofos conseguiam ter praticamente toda a sua obra traduzida em português, mesmo que não fossem especialmente estudados entre nós. É o caso de Roland Barthes, que nos legou múltiplas ferramentas de análise e interpretação tão interessantes quanto úteis, mas cujo trabalho valeria a pena só pela seguinte frase: “tenho uma doença: vejo a linguagem”.
Para quem, como Barthes, sofre desta doença, não lhe escapará o uso contínuo de termos em língua inglesa sem razão aparente. Porquê meeting em vez de reunião? Players em vez de intervenientes? Spot em vez de lugar? É possível que, em tempos longínquos, tivéssemos feito o mesmo com palavras francesas, entretanto incorporadas no nosso vocabulário de tal forma que esquecemos a sua origem. É, por isso, possível que, daqui a algumas décadas, escrevamos mitingues e pleieres (como Mário Zambujal brinca nos seus livros), e as novas gerações ignorem como surgiram.
Mas depois há os casos compreensíveis. Podemos querer utilizar uma expressão ou uma palavra em língua inglesa precisamente para expressar a sua origem externa e estranha: é o caso de “hate speech”, que embora tenha uma tradução consagrada em português (“discurso de ódio”), ainda assim deve ser dita no original para que não nos esqueçamos de que há uma teoria por detrás dela, um conjunto de ideias que se quer afirmar – e ao denunciar essa origem e esse reconhecimento,........
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