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O problema do populismo

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11.03.2024

Em artigo anterior, vimos como, apesar de existirem diferentes abordagens teóricas ao fenómeno do populismo, há um entendimento comum sobre a sua estrutura básica: o populismo separa a sociedades em dois grupos opostos – a elite e o povo –, atribuindo-lhes uma diferente carga moral: a elite é sempre corrupta; o povo é sempre puro. Esta carga moral é de particular relevância, porque a narrativa populista procura usar as emoções para estabelecer uma relação de confiança com os eleitores – na verdade, tentando recuperar ou sarar a confiança política deteriorada.

Neste sentido, o populismo não pode ser entendido sem referência ao contexto atual mais amplo de crise da representação, que resulta da quebra de confiança no sistema político – fenómeno muito estudado e que revela uma relação apenas aparentemente paradoxal: as populações expressam um descontentamento crescente com o modo como os sistemas democráticos funcionam, embora continuem a expressar confiança na democracia enquanto regime político. Muito desse descontentamento resulta do facto de uma parte crescente da população sentir que a sua voz, os seus valores e o seu sentido de virtude – para usar a trilogia de Matthew Goodwin – não estão a ser politicamente representados. Em sentido contrário, os representantes parecem mais preocupados em avançar não só os interesses das elites económicas e culturais, liberais e globalistas, como também os seus interesses pessoais. E esta frustração tem sido especialmente direcionada contra os partidos, que revelam cada vez mais dificuldade em manter laços de fidelidade eleitoral.

É neste espaço de insatisfação que o populismo floresce, prometendo devolver a voz à população, ouvir as suas preocupações e recuperar a sensação de que os seus interesses estão a ser representados. Não é, por isso, surpreendente que um dos mecanismos tipicamente defendidos pelos movimentos populistas seja o referendo, como ferramenta para ouvir diretamente a vox populi (em particular, com a promessa de que o resultado será respeitado e as populações não serão submetidas a vários referendos até decidirem corretamente, ou não serão julgadas e insultadas por não terem........

© Observador


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