O futuro da democracia liberal
Nos últimos meses, o processo eleitoral e a comemoração dos 48 anos de democracia colocaram os mais jovens no centro da análise política: eles foram simultaneamente acusados de terem alimentado o resultado do Chega nas eleições de 10 de março e apresentados como a geração que mais valoriza o 25 de Abril. São estes dois elementos contraditórios? Ou é possível apoiar a posição antissistema do Chega e considerar que o 25 de Abril teve mais consequências positivas do que negativas? Estarão os jovens simplesmente mais cativos da mensagem de Abril que lhes é ensinada na escola ou, uma vez que o estudo foi realizado em 2023, terão mudado de ideias no espaço de um ano? Ou será precisamente por valorizarem Abril que os jovens apelam a uma mudança?
Dois dias antes das nossas eleições, um artigo no The Washington Post usava o caso português, destacando Rita Matias, para retomar uma ideia muito explorada pelos media no último ano (por exemplo, aqui e aqui): a de que a adesão dos mais jovens à direita radical constituiria um terramoto político juvenil [youthquake].
Definir direita radical implica um outro artigo, mas parece-me razoável aceitar que um dos aspetos mais significativos da sua mensagem é o apelo a regras e ordem, mesmo que isso signifique a existência de um líder forte ou autoritário – como se o caos social e moral das sociedades contemporâneas se tivesse tornado insustentável. Lá fora, usa-se muitas vezes a expressão ultraconservador: aceitemo-la.
Assim entendida, as posições defendidas pela direita radical seriam críticas dos excessos da democracia liberal, marcadamente individualistas e desregrados, e mais propensas a aceitar um certo apelo à autoridade, que pode ser traduzido pela imagem de chamar um adulto à sala para pôr as coisas em ordem. Talvez Platão tenha razão quando diz, na República, que a democracia gera caos e o caos desperta o desejo por ordem.
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Os académicos vêem-se, então, confrontados com a seguinte questão: são as gerações mais novas menos democráticas?
Em 2016, Roberto Stefan Foa e Yascha Mounk chamaram a atenção para os dados que apontavam para a reversão do processo de consolidação democrática:
“Em muitas democracias supostamente consolidadas na América do Norte e na Europa Ocidental, os cidadãos não se tornaram apenas mais críticos dos seus líderes políticos. Também se tornaram mais cínicos quanto ao valor da democracia como sistema político, menos esperançados de poder fazer........© Observador
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